A onda da departamentalização
dos serviços chegou também lá em casa, e não é de hoje. Lá (aqui, no caso),
está estabelecida, por meio de acordo tácito (tácito hoje, porque o tempo
tratou de cristalizar, mas, no início, houve queda-de-braço, mesmo), a departamentalização
dos serviços domésticos, cujas responsabilidades são divididas entre todas as
duas pessoas que residem na unidade familiar composta por mim e pela senhora
minha esposa. E não tem conversa, nem choro, muito menos ranger de dentes e
“não quero”. É isso, e deu.
Problema é que eu não gosto da
maioria das tarefas que cabem a mim. Não gosto, por exemplo, de lavar a louça.
Não gosto de lavar e nem de secar, porque acho que o processo de secagem pode
ser obtido de forma natural, com as louças todas empiramidadas esquisitamente
sobre o escorredor de metal que vai desaparecendo paulatinamente a cada novo
copo empilhado sobre panela em cima dele. Pronto, basta equilibrar ali tudo e
esperar algumas horas (horas a mais no inverno e em dias úmidos, horas a menos
no verão e em dias secos), que a mágica da secagem automática por meio de
contato direto com o ar terá se dado. Mas nem sempre esse argumento científico
convence a senhora minha esposa, que me olha atravessado de lá da outra ponta
do corredor, vassoura na mão, ameaçando conferir ao objeto alguma utilidade a
mais do que somente varrer o pó da casa, e corro a secar rapidinho copo por
copo, colherinha por colherinha, antes que... vocês sabem...
Também não gosto de recolher a
roupa seca do varal ao final do dia, antes que o sol se ponha. Nem de recolher
a seca e nem de recolher a que ainda permaneceu úmida, devido a esses nossos
dias repletos de surpresas climáticas que fazem a festa dos climatologistas,
que não morrem de tédio na Serra jamais. Não gosto. Não gosto, mas faço, porque
também não gosto das partes que tocam a ela, à senhora minha esposa, como
varrer a casa, colocar a roupa na máquina de lavar, passar a roupa (o pesado
mesmo fica para a faxineira que vem em dias marcados, antes que fiquem pensando
que ninguém tira o pó e nem limpa os banheiros desta casa).
Mas não gosto. Faço e não gosto.
Não gosto, mas faço. Aventei até em sugerir passarmos a usar somente louça e
roupas descartáveis, mas, a jugar pela forma como ela empunhou a vassoura,
retirei logo a proposta. Vai que decida descartar o marido...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 24 de agosto de 2015)
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