segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Serviços departamentalizados

A onda da departamentalização dos serviços chegou também lá em casa, e não é de hoje. Lá (aqui, no caso), está estabelecida, por meio de acordo tácito (tácito hoje, porque o tempo tratou de cristalizar, mas, no início, houve queda-de-braço, mesmo), a departamentalização dos serviços domésticos, cujas responsabilidades são divididas entre todas as duas pessoas que residem na unidade familiar composta por mim e pela senhora minha esposa. E não tem conversa, nem choro, muito menos ranger de dentes e “não quero”. É isso, e deu.
Problema é que eu não gosto da maioria das tarefas que cabem a mim. Não gosto, por exemplo, de lavar a louça. Não gosto de lavar e nem de secar, porque acho que o processo de secagem pode ser obtido de forma natural, com as louças todas empiramidadas esquisitamente sobre o escorredor de metal que vai desaparecendo paulatinamente a cada novo copo empilhado sobre panela em cima dele. Pronto, basta equilibrar ali tudo e esperar algumas horas (horas a mais no inverno e em dias úmidos, horas a menos no verão e em dias secos), que a mágica da secagem automática por meio de contato direto com o ar terá se dado. Mas nem sempre esse argumento científico convence a senhora minha esposa, que me olha atravessado de lá da outra ponta do corredor, vassoura na mão, ameaçando conferir ao objeto alguma utilidade a mais do que somente varrer o pó da casa, e corro a secar rapidinho copo por copo, colherinha por colherinha, antes que... vocês sabem...
Também não gosto de recolher a roupa seca do varal ao final do dia, antes que o sol se ponha. Nem de recolher a seca e nem de recolher a que ainda permaneceu úmida, devido a esses nossos dias repletos de surpresas climáticas que fazem a festa dos climatologistas, que não morrem de tédio na Serra jamais. Não gosto. Não gosto, mas faço, porque também não gosto das partes que tocam a ela, à senhora minha esposa, como varrer a casa, colocar a roupa na máquina de lavar, passar a roupa (o pesado mesmo fica para a faxineira que vem em dias marcados, antes que fiquem pensando que ninguém tira o pó e nem limpa os banheiros desta casa).

Mas não gosto. Faço e não gosto. Não gosto, mas faço. Aventei até em sugerir passarmos a usar somente louça e roupas descartáveis, mas, a jugar pela forma como ela empunhou a vassoura, retirei logo a proposta. Vai que decida descartar o marido...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 24 de agosto de 2015)

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