sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Por que por quê?

Meu avô paterno era fã de Apparício Torelly, o Barão de Itararé (jornalista e humorista gaúcho, 1895 -1971) e de João Bergman, o Jotabê (cronista gaúcho, 1922 -1960), mas tinha muito medo do Leonel Brizola (político gaúcho que foi governador do Rio Grande do Sul na década de 1960 e do Rio de Janeiro na década de 1980, nascido em 1922 e falecido em 2004 – se continuar desse jeito, daqui a pouco isso aqui deixa de ser crônica para se transformar em enciclopédia... talvez valha a pena, vai que enciclopedista ganhe mais do que cronista... preciso investigar). 
Dele, herdei o gosto por apreciar o humor inteligente dos dois escritores, mas felizmente não herdei os temores relativos ao político histórico, e é na sequência que explico o porquê (“o porquê”, tudo junto e com circunflexo, como tem de ser, viram? Só não me perguntem por que, porque daí isso vai se transformar em gramática e nos distanciaremos da crônica, sem que ninguém saiba por quê. Mas vai que gramático ganhe mais do que cronista... preciso investigar).
Pois passei boa parte da infância em Ijuí, lá na década de 1970, ouvindo meu avô sempre manifestar temores ao se referir, em suas conversas com “gente grande”, a Leonel Brizola. E eu, do alto da minha ingenuidade infantil, não entendia a razão daquilo. Mas, observador que era já desde as fraldas, fui crescendo e detectando ao redor, entre alguns adultos que orbitavam nossas relações, a existência de outros tementes a Brizola. E eu não entendia o porquê (certinho, de novo).
Mas daí, cresci, decidi ser jornalista e comecei a incrementar meu uso do “por quê?”, separado e com circunflexo, no fim da frase. “Por que você tem medo do Brizola?”, perguntava eu, separado e sem acento, pois no início da frase (e agora virou aula de Português, pois vai que professor ganhe mais do que... não, pior é que acho que não...). E aí, ninguém sabia responder o porquê. O tal do medo do Brizola não tinha explicação. Era apenas a repetição desinformada, o eco impensado de um senso comum, que ninguém sabia justificar.

Aquilo, para mim, não servia e segue não servindo. Preciso estar convicto, pleno de informações e de argumentos, para justificar meus temores ou minhas crenças. Afinal, cronistas, jornalistas, gramáticos, enciclopedistas, professores e cidadãos de todos os tipos não podem ser maria-vai-com-as-outras. E vocês sabem muito bem por quê.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 28 de agosto de 2015)marcos

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