Andam dizendo que tentei criar
um factoide. “Factoide”, para quem não sabe e nunca criou um, é o termo
utilizado para designar qualquer espécie de pseudofato, fato fictício, fato
inventado ou superlativizado, com o objetivo de lançar luzes sobre determinada
pessoa, a fim de que ela ganhe espaço na mídia e veja subirem seus índices de
popularidade, o que lhe pode render dividendos variados. Andam dizendo que usei
desse artifício esses dias, para fins pessoais.
O recurso do factoide é muito usado
por políticos que pretendem alavancar a carreira (vereador que quer ser
deputado, prefeito que quer ser governador, presidente que quer dominar o
Sistema Solar...); por atores que de repente se veem fora da órbita global e
querem ser lembrados (pelo público e, especialmente, pelos diretores de
televisão e pelos responsáveis pelas escalações de elenco); por subcelebridades
em geral que querem arranjar patrocinadores para seus bumbuns siliconados e
coxas com envergadura de pneu de patrola; e, agora, por cronistas diários
mundanos como eu, que quer ampliar seus índices de leitura, partindo para a
postagem de seus textos em certas redes sociais que não podem ser denominadas
pelo seu nome real na imprensa sabe-se lá por que, mas que todo o mundo sabe
quais são, e, então, utiliza golpes baixos como alterar a foto de seu perfil
colocando uma imagem em que aparece na frente de um afamado ponto turístico
mundial, dando a impressão de ser pessoa de altas posses que lhe permitem
atravessar o Oceano Atlântico e ir refestelar-se em viagens internacionais
enquanto o resto dos pobres leitores segue ralando por essas plagas esburacadas
mesmo, amargando crise e disputando vaga para estacionar o carro no centro. Que
pobreza de espírito, a do tal cronista mundano criador de factoides!
E até já circulam versões de
que, ao observar com atenção a tal da foto do cronista, seria possível perceber
que, na verdade, sua silhueta (esbelta, ao menos isso) foi recortada com
recursos de photoshop e inserida artificialmente sobre cartão-postal do referido
monumento arqueológico, e que na realidade o dito cronista jamais peregrinou
muito além da Casa de Pedra em Caxias e das ruínas de São Miguel das Missões.
Tudo em nome do factoide. Ruim, muito ruim. Só o que redime o tal cronista é o
fato real de que, em tendo feito isso, está em total sintonia com o espírito de
sua época!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 15 de agosto de 2015)
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