Eu tenho plena consciência das
minhas limitações. Da enormidade delas, e do quanto elas exigem que eu me
mantenha dentro de meu quadradinho, a fim de não andar por aí metralhando a
torto e a direito saberes que não possuo, habilidades que me são estranhas,
sapiências que em minha boca soam falsas, conclusões que só a mim interessam. Não
sou doutor em nada, e o pouco que julgo saber - por ter aprendido vivendo -, mantenho
constantemente sob o policiamento da dúvida. Quanto mais leio, menos sei;
quanto mais estudo, mais lacunas se abrem; quanto mais reflito, menos concluo. No
meio do caminho, foram se despregando de mim os fios de cabelo e quase todas as
certezas. Sou a antítese da evolução humana e me consolo na possibilidade de,
ao menos, poder servir de exemplo a não ser seguido.
Mas antes que se condoam demais
com meu repentino autoflagelo, vamos aos fatos. Já faz algum tempo que tenho a
incumbência de desenvolver aqui neste espaço o exercício diário da crônica, e
venho fazendo-o dentro dos limites de minhas possibilidades, conforme confessado
ali no início. Óbvio que, para tanto, procuro beber na fonte dos grandes
mestres desse gênero literário, a fim de tentar aprender como se faz e provocar
a inverossímil magia da transferência do talento por meio da leitura, o que, na
realidade, jamais acontece, como podem bem verificar aqueles que generosamente
aqui me leem.
Do mestre Rubem Braga, por
exemplo, não possuo a soturna sensibilidade quase depressiva que se transforma
em poesia lírica sob o olhar literário do grande escritor. Dele, não possuo
isso e tampouco o talento. De Sérgio Porto, o rei dos cronistas mundanos, não
possuo a destreza da escrita leve que revela a essência humana por meio de
tipos e situações aparentemente superficiais do cotidiano. Dele, nem isso, e
tampouco o talento. De Luis Fernando Verissimo, não possuo nem a inteligência,
nem o humor. Tampouco, o talento. De Jimmy Rodrigues, não possuo o dom da
tecelagem das palavras certeiras na construção de textos elegantes. E nem o
talento.
Segue longa a lista de outros
tantos talentos que saboreio e dos quais equanimemente me distancio até me
encontrar neste quadrado aqui, onde resto eu, com minhas insignificâncias e
essa imensa capacidade de reconhecer e admirar talentos alheios. Ah, eis aí um
talento! Bom, procurando, a gente sempre acha...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 4 de agosto de 2015)
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