Você já ouviu falar da Dona
Enola? Não? Bom, então, falemos um pouco a respeito dela, a data de hoje é
propícia para isso. Na verdade, pouco se sabe sobre detalhes da vida da Dona
Enola, apesar de ela ser uma figura significativa na História moderna. Ao
menos, seu nome é uma referência marcante, ligado a um dos acontecimentos mais
trágicos e transformadores da civilização humana.
A Dona Enola, cujo nome completo
era Enola Gay Haggard Tibbets, era uma típica dona de casa norte-americana, uma
mulher de seu tempo, igual a tantas outras. Sabe-se que nasceu em 10 de
dezembro de 1893 em Glidden, no estado de Iowa, e morreu em julho de 1966 em
Orlando, na Flórida, aos 72 anos. Em 1913 ela se casou com Paul Warfield
Tibbets, com quem teve os filhos Paul Warfield Tibbets Junior e Barbara Ann
Tibbets. Interessante um dos sobrenomes do marido dela, Warfield. Em tradução
livre e literal do inglês, significa algo como “campo de guerra”. Ah, as
coincidências...
Eu posso imaginar a Dona Enola
amorosa, fazendo torta de maçã para os filhos, assando peru para o Dia de Ação
de Graças, abrindo a porta de casa para dar doces aos filhos dos vizinhos
fantasiados de fantasmas no Halloween, essas coisas típicas norte-americanas. Bom.
O filho da Dona Enola, para seu orgulho, virou piloto da Força Aérea dos
Estados Unidos, e dos mais importantes. Coube a ele a missão de pilotar o
bombardeiro B-29 que, em 6 de agosto de 1945, exatos 70 anos atrás, jogou a
primeira bomba atômica do mundo sobre a cidade japonesa de Hiroshima, matando
estimadas 140 mil pessoas. A bomba foi batizada de “Little Boy” (“menininho”)
pela tripulação do bombardeiro.
Ah, o avião também recebeu um
nome carinhoso: “Enola Gay”, em homenagem à mãe do piloto. Ou seja, “Enola Gay”
levou seu “Little Boy” para fazer travessura nuclear no outro lado do mundo.
Evento de triste lembrança, embrulhado em uma ironia de guerra que não encontra
mais lugar na história. O piloto Paul Tibbets morreu em 2007, aos 92 anos. O
então presidente norte-americano Harry Truman, que ordenou o ataque, disse para
ele não perder o sono por ter cumprido a missão. Teve longa vida, mas não sei
se dormiu bem. Eu, aqui, perco o sono sempre que imagino o episódio. Mas é que
não sou filho da Dona Enola. Até podemos esquecer a Dona Enola, mas não podemos
jamais esquecer o ato que seu filho recebeu ordem para fazer.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 6 de agosto de 2015)
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