sábado, 1 de agosto de 2015

Agosto a gosto

Vamos entrando com os pés direitos (quem tem mais de um, que os use todos, para tentar intensificar a atração da sorte) no mês de agosto, e poderia aqui o cronista ceder à tentação da obviedade e passar a tecer um emaranhado de relações reais e imaginárias sobre o dito popular que faz bullying com esta época do ano, querendo incutir-lhe a bandeira de mês do desgosto, mas não faremos isso, caro leitor, querida leitora, haveremos de encontrar outro viés, menos óbvio, mais condizente com as reconhecidas capacidades que temos – o cronista e os leitores – de velejar por abordagens menos rasas. Aprofundemo-nos, portanto, pero no mucho, porque, como alertavam minhas avós, no raso sempre é mais seguro.
Desembarcar em agosto, agora pensando bem, já que combinamos de nos colocar a refletir, promove na verdade uma sensação levemente alvissareira em nossos espíritos. Pare um pouco, olhe para dentro e veja se não é assim, se não estou pleno de razão. Afinal, se conseguimos chegar até aqui, depois de passarmos heroicamente enfrentando os frios, as chuvas e as umidades de junho e julho, é porque estamos nos habilitando a já pressentir no horizonte, mesmo que ainda lá longe, alguns sinais de que, sim, a Primavera não vai nos trair, ela está lá, à nossa espera, sorridente, luminosa, cheirosa e de braços abertos, preparando-se para embarcar e vir até nós, basta esperarmos mais um pouco, recarregarmos nossas forças para enfrentar ainda mais alguns percalços, e sim, agosto é um mês envelopado em esperança.

 Eis um viés novo para ser agregado ao mês de agosto, e parece-me que, dessa forma, conseguimos sair das rasuras e lançar âncora em uma visão menos óbvia da realidade, conforme havíamos nos proposto no começo dessa crônica jornada, não é mesmo, querida leitora, caro leitor? Porque agosto é um mês em que tendemos a pedir por socorro, e não há de ser coincidência os Beatles terem escolhido esse mês do ano para lançarem seu quinto álbum de estúdio meio século atrás, em 1965, intrigantemente intitulado “Help” (“Socorro”). Como nos ensina a psicologia, se nos dispomos a pedir por socorro é porque no íntimo nos predispomos a sermos ajudados. Socorro, então, Primavera, não nos traia. Não nos dê o desgosto de um eventual abandono, é tudo o que pedimos com gosto nessa entrada alvissareira de agosto.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 1 de agosto de 2015)

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