sexta-feira, 10 de julho de 2015

O bicho que ri

O brasileiro é mesmo um bicho muito bem-humorado. Não perde a chance de fazer uma graça, especialmente quando se trata de evidenciar suas desgraças. Perde o amigo, mas não perde a piada. E se for inimigo, então, destrava a metralhadora do chiste e abre as porteiras da flauta, sem represar o eventual mau gosto. Tudo porque alguém certa vez inventou a máxima de que “rir é o melhor remédio”, e foi o que bastou para que nos entregássemos curativamente de braços abertos à prática descontrolada da gracinha, passando a ser uma multidão de engraçadinhos. Às vezes, nem tanto.
Afinal, a vítima da graça alheia costuma tachar o engraçadinho de desgraçado, isso sim. Vejamos um caso recentíssimo, como a polêmica criada esta semana pelo Zoológico de Sapucaia, que abriu ao público uma votação a fim de batizar um filhotinho de anta que nasceu ali alguns dias atrás. Trata-se de uma anta, uma antinha, e o nome que vem ganhando disparado a enquete é Dunga. Sim, Dunga. Querem que a anta se chame Dunga, para que as pessoas se dirijam ao Zoo de Sapucaia para visitarem Dunga, a anta. Você está rindo? Claro, né, você fez a relação que o chiste propõe. Dunga, a anta.
Mais engraçada ainda é a justificativa que a direção do zoológico encontrou para explicar a presença da alternativa Dunga na lista de nomes proposta ao público. Sim, porque o nome Dunga não surgiu espontaneamente entre o público, mas consta em uma lista de cinco possíveis nomes para a antinha, ao lado de Antonino, Tonho, Nicolau e Batatinha. Dos cinco mil votos registrados até agora, 2,9 mil foram para Dunga. E por que Dunga? Ora, diz a direção do zoo, porque a antinha tem orelhas grandes e lembra o anãozinho orelhudo e careca amigo da Branca de Neve, parceiro de Mestre, Zangado, Feliz, Soneca, Dengoso e Atchim. Zangado mesmo deve estar certo personagem da vida real, que certamente não está gostando nem um pouco da gracinha.

Aliás, se a intenção fosse mesmo fazer alusão às grandes orelhas do bichinho (vem cá, isso não configura bullying animal, não?), por que não oferecer a alternativa de Dumbo para nominar a anta? Aí teríamos em Sapucaia Dumbo, a anta, e poderíamos batizar algum elefantinho com o nome Dunga, para aliviar as coisas, quem sabe? Não? Péssima ideia e sem graça? Desculpem, preciso me abrasileirar melhor...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de julho de 2015)

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