segunda-feira, 13 de julho de 2015

Desejo sabatino

Ah, o sábado à noite de folga! Que delícia, que presente raro dos deuses! Sim, eu sei que hoje é segunda, início de semana, o final de ano ainda está longe, sequer podemos contar nos dedos os dias que faltam para as férias, estamos em pleno meio do ano, as atribulações do cotidiano exigindo atenção, o estresse beirando o sinal de alerta, essas coisas, e eu venho falar de sábado. Sim, eu sei, mas é que, dadas essas condições, o sábado, em pleno julho invernal, acaba se configurando no oásis mais próximo e palpável que consigo vislumbrar, em meio a tanto trabalho, tanta agenda, tantos compromissos. Assim, portanto, permitam-me discorrer sobre o sábado.
Especialmente sobre o último sábado, esse último, que ainda paira fresquinho em nossas lembranças, agora já nubladas pelo peso mastodôntico de uma segunda-feira. Pois como eu ia exclamando lá no início, ah, o sábado à noite de folga! Que raridade um sábado assim como aquele, inesperadamente desprovido de compromissos, de braços abertos só para mim! Nenhuma visita a receber; nenhum convite a atender, tanto social quanto pessoal ou profissional; nenhum evento a comparecer (ninguém casando, ninguém se formando, ninguém debutando, ninguém aniversariando, ninguém passando em vestibular, nenhuma boda, ninguém separando, que já há quem comemore, ou deveria); nenhuma inauguração a comparecer, já que não sou prefeito, nem vice, nem vereador, nem secretário, nem aspone, muito menos asmene; nenhuma viagem a fazer, nada, nada, o sábado à noite inteiro só para mim! Que rara delícia!

Mas nem tudo é perfeito neste mundo, o que é perfeito para a inspiração do cronista, mesmo que às vezes doa e faça a vida parecer um mar de rosas espinhudas permeada de segundas-feiras. Você está ali no seu sabadão à noite só para você, uma singela pizza de muzzarela pronta a ser esquentada no forno, o controle remoto da tevê a cabo preparado para entrar em ação, quando vem pela janela aquele provocador, irresistível e maravilhoso cheiro de churrasco sendo assado por algum vizinho distante e impossível de ser identificado nas cercanias do bairro. E você ali, de controle remoto na mão, a boca salivando, louco de desejo por um churrasco... Raios! Que venha logo a segunda-feira!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 13 de julho de 2015)

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