segunda-feira, 20 de julho de 2015

Altamente recomendável

Dia desses, descobri que sou “altamente recomendável”. Posso imaginar que você possa imaginar o tamanho da surpresa que me invadiu ao tomar conhecimento de que eu, sim, eu, sou uma pessoa passível de ser classificada como “altamente recomendável”. A surpresa foi grande, como seria de se esperar numa situação dessas, e confesso que é difícil descrever a sensação que se apodera de uma pessoa no momento em que ela descobre ser “altamente recomendável”. Só mesmo vivendo a situação para saber.
O fenômeno deu-se semana passada, quando recebi em casa, entregue pelo carteiro, uma encomenda que há alguns dias já estava esperando. Por meio de um site de compras da internet, mandei vir o DVD de um show que eu muito desejava ter em casa e a entrega se deu dentro do prazo estipulado pelo vendedor, tendo o artigo chegado às minhas mãos em ótimas condições, funcionando, tudo certinho. Fiquei muito satisfeito e decidi entrar no tal site, a fim de proceder à qualificação do vendedor, aprovando-o com estrelinha. Qual a minha surpresa ao perceber que existe uma área no referido site em que também os vendedores qualificam os clientes, e lá estou eu, devidamente qualificado como um cliente “altamente recomendável” por diversos vendedores de quem já adquiri produtos anteriormente. Ora, vejam só!
Isso significa que, ao entrarem nessa seção do site a fim de perscrutarem meu perfil de cliente, os vendedores terão sobre mim as melhores referências, sentindo-se seguros em vender para mim seus CDs, seus DVDs, seus livros e revistas, artigos que eu costumo adquirir via internet, com certa frequência. “Vendam para ele, sem medo”, é uma das traduções possíveis dessa qualificação que me resume: altamente recomendável.

Não foi isso que eu percebi outro dia desses, quando entrei em uma determinada loja de determinados produtos aqui em Caxias, a fim de fazer uma compra, e fui solenemente ignorado pela atendente que preferiu permanecer com suas atenções direcionadas ao whattsapp de seu smartphone, sem se dar ao trabalho de levantar-se da cadeira e vir exercitar seu papel de vendedora, o que seria de se esperar, especialmente nesses tempos tão bicudos. Quando temos a impressão de que somos melhor atendidos por internet do que ao vivo, é porque algo está altamente desrecomendável, será que não?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 20 de julho de 2015)

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