segunda-feira, 15 de junho de 2015

Filosofia de segunda-feira

Vivemos uma só vida, essa que a gente constrói por conta própria desde o nascimento até o ponto final. As cores que vão ornamentar nossas biografias decorrem das escolhas que vamos fazendo ao longo dessa trajetória e, como somos únicos, vamos fazendo escolhas personificadas e, assim, nos diferenciando uns dos outros, cada qual construindo uma história única. Impossível, pois, viver outras vidas senão a nossa, e a forma de subverter  essa verdade fundamental se dá por meio do mergulho nas artes narrativas, em especial a leitura (a base de todas as outras), quando podemos entrar na pele de outros personagens e viver experiências que, de outra forma, não caberiam dentro dos departamentos que regem a nossa própria existência.
Se tivéssemos dito “sim” aquela vez, décadas atrás, estaríamos seguramente vivendo uma vida diferente hoje. Se tivéssemos optado por um curso diferente, ou por insistir em um relacionamento, ou por acelerar menos naquela curva, ou por ter dito aquele “não” na hora certa, ou por não termos saído de casa naquele domingo, tudo teria sido diferente, e teria, mesmo. As transformações que ocorrem em nossas trajetórias às vezes decorrem de atitudes simples, prosaicas, cotidianas, aparentemente desprovidas de maiores significados. O voo de uma borboleta ao redor de seu nariz, que impulsiona aquele tapa ou aquela parada para observar a magia da natureza, são atos capazes de impedir você de atravessar a rua defronte ao ônibus desgovernado... Ou não. O voo de uma borboleta pode transformar sua vida, sim senhor. Bem como uma xícara suja deixada para lavar amanhã, só amanhã de manhã.

Da mesma forma se dá com a História com “h” maiúsculo. Que mundo teríamos caso certas ações não tivessem sido tomadas pelos grandes vultos, ou se eles tivessem decidido agir diferente? Que país teríamos se os holandeses houvessem conseguido sobrepujar os portugueses pela posse de nosso território? E se jamais tivesse havido golpe militar em 1964? E se o nazismo tivesse vencido a Segunda Guerra Mundial, em que mundo viveríamos? Teria eu nascido? Meu pai teria conhecido minha mãe? E se Dom Pedro I tivesse decidido não ficar no Brasil? E se eu tivesse dito ‘não” ontem? E “sim” antes de ontem? E quem pediu crônica filosófica numa segunda-feira? Melhor se nem a tivesse escrito...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 15 de junho de 2015)

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