quinta-feira, 4 de junho de 2015

Cadeado do amor

Mas que coisa mais triste essa história da retirada dos tais “cadeados do amor” lá daquela ponte em Paris, que a imprensa noticiou esses dias, vocês não acharam, hein? Eu achei! O quê? Como é, minha senhora? A senhora não está entendendo lhufas de que raios eu estou falando? Bom, então senta aí que eu explico, porque cronista que se preze não pode ficar escrevendo sem ter a certeza de que todos os seus leitores estão acompanhando. Então, façamos assim: quem sabe do que se trata vai dar uma voltinha no tempo de um parágrafo, que é o que eu preciso para explicar para a madama ali do que se trata, e depois retornem que a gente continua juntos, tá bom assim?
Ok, vamos lá. Então, senhora, é o seguinte. Existe lá em Paris, a Cidade Luz, capital da França, uma ponte chamada Pont des Arts. É uma ponte antiga, construída no século 19, que ficou famosa porque, de uns anos para cá, os enamorados vindos de todas as partes do mundo, ao chegarem em Paris, cidade encantadora, charmosa, na qual o amor está no ar, começaram a criar o hábito de, ali nas grades de proteção da ponte, engancharem cadeados com as iniciais de seus nomes gravadas, a fim de eternizarem suas paixões. Um ato simbólico em nome do mais lindo sentimento que duas pessoas podem nutrir uma pela outra, a senhora sabe como é, né?
Só que, senhora – e nos apressemos aqui que o parágrafo já terminou e o pessoal está voltando – a cadeadança começou a ser tanta, mas tanta, coisa assim dos milhares, sabe, que a estrutura da ponte estava ficando comprometida. Sim, a Pont des Arts corria o risco de desabar devido a tanto amor! Mas aí a prefeitura de Paris resolveu acabar com a festa e mandou arrancar fora os cadeados todos, sejam eles os recibos de amores vindos do Ceilão ou da Patagônia, de Itacurubi ou de Madagascar, não interessa. Tudo fora.

Sim, senhora, triste, comovente, mesmo. Fiquei pesaroso e preocupado não com o destino dos cadeados, mas sim quanto à manutenção das paixões que eles representam ao redor do mundo. A senhora tinha cadeado lá com as suas iniciais gravadas nele, senhora? Não? Ah, tem razão: amor que é amor resiste a qualquer baque, igual à estrutura da ponte. A metáfora, então, estava na ponte, e não nos cadeados. Puxa, é verdade! A senhora tem visão de cronista, minha senhora...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 4 de junho de 2015)

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