segunda-feira, 20 de abril de 2015

Vida simples

Ah, o prazer das pequenas coisas. O grande prazer das coisas pequenas. Pequenas coisas que propiciam grandes prazeres e, por isso mesmo, não são pequenas, mas, sim, grandes pequenas coisas. Pequenas grandes coisas. Como quiserem. O fato é que são coisas fáceis de você proporcionar a si mesmo, plenificá-las de significados e guardá-las consigo como lembranças boas para o resto de sua vida. Basta querer.
Ontem, por exemplo, domingo. Dia bonito, com nuvens esparsas, sem chuva, o sol tranquilo de outono, nem muito quente, nem muito frio, o paradismo das coisas inerente ao epicentro de um feriado prolongado. Aquele despertar sem horário, mas que se dá no horário de sempre devido ao condicionamento do relógio biológico e que acaba sendo uma bênção porque você se vê em pé no meio da sala ainda cedo e com todo aquele domingão lindo à sua mercê, disponível para tudo aquilo que você decide não fazer e locupletar-se de uma rara inércia merecida e benfazeja, como nem sempre é possível. Ah, que bom!
Aí você decide sair para almoçar com a esposa, deixar que cozinhem para você, que sirvam-lhe à mesa, na churrascaria de sua preferência (porque domingo é dia de costela bem passada e de picanha mal passada e granito não, obrigado, um salsichão, sim, baixa esse ali mais torradinho, e abacaxi para ela, eu passo, essas coisas), e vai de tênis e camiseta, aquele ar casual domingueiro que só aos domingos somos capazes de portar, e como o fazemos bem. Daí, costela vai, costela vem, você lambuza os bigodes (tenha-os ou não, trata-se de metáfora válida para qualquer biotipo) e decide dar-se por satisfeito e ir para casa, porque a tevê passa jogo de tarde e você tem de torcer ou secar, dependendo das cores que defende.
E no caminho, decide passear pelas ruas do bairro, entrar nas quebradas, retardar ao máximo a chegada em casa enquanto rola no som do carro o CD contendo músicas geniais arranjadas pelo amigo artista de Nova Petrópolis (grande Selestino Oliveira!) que há anos resolveu musicar letras de poetas caxienses e produzir disco bonito com o qual nos presenteou e que nos faz cantar junto e decorar as letras, felizes, satisfeitos e empanturrados de vida. De vida dominical. Sabendo que qualquer dia de nossas vidas pode se revestir de domingo de outono, como esse de ontem. Basta querermos.

 (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 20 de abril de 2015)

Nenhum comentário: