Foi no início de 1979 - eu tinha
12 anos de idade - quando meus pais, leitores contumazes, se associaram ao
Círculo do Livro. Tratava-se de um clube de leitura sediado em São Paulo,
ligado a uma editora, que produzia edições luxuosas (com capa dura, mancha
gráfica requintada, ótimas traduções e arte de primeira) de obras nacionais e
internacionais, disponibilizadas à aquisição dos sócios pelo sistema de
reembolso-postal. Naquela época, havia poucas livrarias (especialmente nas
pequenas cidades) e nem se sonhava com encomendas via internet, muito menos com
a internet em si.
A cada três meses, os sócios
recebiam em casa a “Revista do Círculo”, contendo centenas de reproduções das
capas e resenhas sobre as obras e os autores disponíveis para a compra no
trimestre. Era uma festa. A revista passava de mão em mão lá em casa, cada um
assinalando os títulos que lhe despertavam a cobiça, para que integrassem a
lista de encomendas. Eu e minha irmã tínhamos direito a pedir um ou dois livros
cada um, por trimestre. Que alegria.
O primeiro que solicitei foi “As
Aventuras de Tom Sawyer”, de Mark Twain (1835 – 1910), e lembro até hoje,
passados quase 40 anos, do momento em que abri o pacote e toquei a linda capa
dura de meu exemplar, ilustrado com um elegante desenho a ponta de lápis do artista
espanhol Juan Ballesta. À noite, na cama, antes de dormir, saboreei o momento
mágico de abrir o livro e dar início ao mergulho naquele mundo diferente do
meu, protagonizado pelo personagem criança imortalizado pelo escritor
norte-americano. “Tom! – Ninguém responde. – Tom! – Nada. – Gostaria de saber
onde anda esse menino. Tom! – Silêncio absoluto”. Assim tinha início a saga de
aventuras e travessuras que eu palmilharia noite após noite, página por página,
a partir de meu quarto, já transmudado para sempre em um apaixonado leitor.
Elejo este livro para me ombrear
na homenagem que faço ao dia de hoje, 2 de abril, consagrado como o Dia
Internacional da Literatura Infantojuvenil. Meus parabéns a todos os autores
que se dedicam a produzir obras cuja função principal, ao encantar, é
justamente formar novos leitores. Caxias do Sul tem o privilégio de abrigar
vários autores assim e, a eles todos, meus parabéns e meu desejo de que
prossigam nessa boa batalha.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 2 de abril de 2015)
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