sexta-feira, 3 de abril de 2015

Símbolo e analogia

Eu gosto de símbolos, de analogias, de metáforas. Gosto de me encantar com o poder poético que os símbolos, as metáforas e as analogias exercem ao representarem aspectos da realidade de maneira alegórica, indireta, evocando o raciocínio, a imaginação, a sensibilidade, o espírito, para que façamos a conexão necessária e, em um lampejo sublime, alcancemos a compreensão. “Insight”, resumem os psicólogos; “epifania”, “êxtase”, afirmam os místicos.
 Encantamento e pura poesia, fascino-me eu, evocando mais uma vez o mantra do mestre português da poesia, quando ele pessoanamente diz: “Ah, tudo é símbolo e analogia!/ O vento que passa, a noite que esfria/ São outra cousa que a noite e o vento -/ Sombras de vida e de pensamento”. Como nos ensina o luso poeta, o vento que passa é muito mais do que somente o vento que passa, quando capturado pelo olhar poético. O vento que passa se transforma em símbolo e analogia, podendo significar mil cousas outras, dependendo das sombras que fizermos surgir da vida e do pensamento. O vento que passa é a realidade concreta: é noite, está frio, tem vento. Mas o vento que passa na noite que esfria pode carregar analogias, metáforas, símbolos, transubstanciando-se em sombras de vida e de pensamento. Eis a magia.
Penso nisso nesta Sexta-Feira da Paixão, feriado em todo o mundo cristão em decorrência do martírio a que foi submetido Jesus Cristo há mais de dois mil anos, na Palestina, ao ser pregado e morto na cruz, conforme narra a Bíblia. Não sei se a figura histórica daquele homem denominado Jesus existiu realmente, pois isso é uma questão que cabe aos cientistas debater. Também não sei se, em tendo existido, era mesmo o Filho de Deus, pois isso é uma questão de fé, e a fé de cada um exige e merece respeito. O que sei é que o símbolo dessa saga evocada por esse personagem e pelos eventos que o cercam é muito poderoso e significativo. Em resumo, representa o extremo das consequências enfrentadas por alguém que assumiu para si uma missão super-humana: trazer à humanidade uma proposta de vida embasada no amor recíproco, na paz, na tolerância, na comunhão e no exercício do melhor que temos dentro de cada um de nós.

Uma mensagem revolucionária ao extremo, tão carregada de força mítica, que segue sendo um desafio atual e válido, a ser perseguido por todos. Boa Páscoa!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 3 de abril de 2015)

Nenhum comentário: