quinta-feira, 23 de abril de 2015

Prefiro não fazer

Desde que o mundo começou a civilizar-se, é sabido que o cultivo de hábitos culturais é a mola propulsora básica e fundamental para o desenvolvimento de um povo. Uma nação civilizada, que seja propositiva no cenário internacional, que tenha condições de gerenciar-se positivamente, de encontrar saídas criativas e sólidas para a solução de seus problemas, só se constrói de verdade a partir da formação em seu seio de cidadãos plenos. E cidadãos plenos só existem se possuem relação com a educação e com a cultura. Se não, não. Ponto.
Nós, brasileiros, estamos caminhando alegres e céleres em marcha-a-ré na pista da relação entre povo e cultura. Enquanto os povos sérios, desenvolvidos, correm para a frente, nós damos as costas para a linha de chegada e arrancamos com entusiasmo para trás, cada vez mais distantes de qualquer meta minimamente razoável, e o fazemos com a prepotência típica do adolescente inconsequente e dono da verdade, que é o que somos enquanto nação, rumo à catástrofe. Entre civilização e barbárie, optamos claramente pela barbárie, encalhados nos sofás de nossas salas assistindo à televisão, enquanto o tempo passa e a História vai sendo construída do lado de lá de nossas fronteiras.
Exagero do cronista? Vamos, então, aos fatos. A Fecomércio do Rio de Janeiro divulgou, poucos dias atrás, o resultado de uma pesquisa que fez em todo o território nacional, analisando a relação dos brasileiros com os hábitos culturais, e os números apresentados são estarrecedores (apesar de nada surpreendentes, infelizmente). A pesquisa enfoca o que os brasileiros fizeram (ou não fizeram) em termos de ações culturais no ano de 2014. Para começar, 70% dos entrevistados não botaram a mão em sequer um livro para ler. Só isso bastaria, mas tem mais: 89% não assistiram a uma peça de teatro; 73,7% não foram ao cinema; 80,6% não foram a show; 92,5% não visitaram exposições de arte; 91,2% não foram a espetáculos de dança. Ufa! É o quadro do horror.

E por que isso? Por uma simples resposta, também detectada pela pesquisa: falta de hábito ou de gosto. Ou seja: desinteresse puro e simples. E quem é a vedete das horas de lazer dos brasileiros? Fácil: a televisão (programas de auditório, futebol e BBB) e a internet. Ordem e progresso, né? Só na bandeira mesmo...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 23 de abril de 2015)

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