sexta-feira, 10 de abril de 2015

Não, não acabou

Durante os primeiros anos da década de 1970, o dia 10 de abril revestiu-se como uma data de luto, tristeza e dor para os fãs do rock and roll e da cultura pop ao redor do planeta. Foi na manhã daquela sexta-feira, 10 de abril de 1970, que o músico e compositor britânico Paul McCartney anunciou para a imprensa mundial que ele estava saindo dos Beatles e que a banda, adorada por milhões de fãs em todo o mundo, estava oficialmente esfacelada. Foi uma bomba que devastou almas.
Paul reuniu a imprensa para anunciar, de surpresa (até mesmo para os seus agora ex-colegas de banda), o lançamento de seu primeiro álbum-solo (intitulado simplesmente “McCartney”), contendo 13 faixas totalmente compostas por ele e musicadas por ele mesmo (Paul gravou todos os instrumentos em seu estúdio particular, da bateria aos teclados, ao baixo e às guitarras). E, de lambuja, disse que estava deixando os Beatles. E sem Paul, não haveria mais Beatles (aliás, sem qualquer um dos quatro de Liverpool jamais haveria chance de a banda seguir existindo).
Acabava-se, naquela manhã de sexta-feira, 10 de abril de 1970, um longo sonho que havia embalado a vida de milhões de pessoas. O epitáfio “o sonho acabou”, para referir-se ao fim dos Beatles, foi legado pela genialidade de John Lennon ao lançar seu próprio álbum-solo em 11 de dezembro do mesmo ano, ao final da faixa intitulada “God” (“Deus”). Só que, passado o luto, a vida seguiu em frente, como ela sempre faz, revelando que, na verdade, ainda havia muito a ser sonhado.

Nas décadas seguintes, os quatro ex-Beatles deram asas às suas carreiras-solo, presenteando o mundo com novas pérolas oriundas de suas genialidades criativas, mantendo também viva e sempre acesa a chama da banda que haviam criado e legado à História. A verdade disso tudo é que sonhos podem sempre ser renovados, transformados, reinventados, apesar dos percalços, das pedras no meio do caminho. Passados 45 anos da dissolução da banda de rock mais influente da história, o dia 10 de abril, hoje, configura-se apenas como uma nota histórica imutável, mas o luto em relação a ela passou. O segredo é saber reconfigurar sonhos que fazem de conta que terminaram.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de abril de 2015) 

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