segunda-feira, 6 de abril de 2015

História de horror

Tudo, mas tudo, é uma questão de convicção. Estou convicto disso. A convicção é a alma do negócio, tanto nos negócios quanto nas questões de ordem pessoal. O vendedor sabe muito bem disso. Ele sabe que ele não vai convencer ninguém a adquirir um produto no qual ele mesmo não acredita.
É aquela velha história, de ser capaz de vender geladeira para pinguim. Afinal de contas, até pinguem tem o direito de desejar ter sua cerveja bem gelada, dentro do iglu. Como, minha senhora? Pinguim não mora em iglu, quem mora em iglu é esquimó? Dá no mesmo, minha senhora, não estrague minhas metáforas, o importante aqui é a temperatura da cerveja e a vontade do pinguim. O pinguim é meu e faço com ele o que eu bem entender. E vamos adiante, que temos uma reflexão a desenvolver.
Falava eu de convicção. Você tem de estar convicto para conseguir convencer os outros de suas verdades. Além disso, as coisas só vão se transformar em realidade se elas primeiro virarem verdades de dentro de você, em seu íntimo. Parar de fumar, por exemplo. Você só vai conseguir de verdade se primeiro essa vontade (a de parar mesmo de fumar) se transformar em realidade convicta dentro de você. Daí, sim, ela se transformará em verdade no mundo real. Caso contrário, não mesmo. Caso contrário, será aquela procrastinação de sempre, aquela vontadezinha sem muita vontade de verdade, sem convicção, e dê-lhe mais um cigarrinho.
Certa vez, décadas atrás, estávamos reunidos em família ao redor da lareira na casa de meus pais, em Ijuí, em uma fria noite de julho na qual faltou luz. A aconchegante luminosidade do fogo da lareira induzia meu avô a contar histórias e, de repente, minha priminha, de quatro anos de idade, pediu para todos se calarem, porque ela iria contar uma história “de dar muito medo”. Fizemos silêncio e dirigimos nossos olhares a ela, para que desse início á sua história. Ela ali, sentadinha na cadeira, olhou ao redor, começou a lembrar da história em sua cabeça, fez uma careta de horror e começou a chorar convulsivamente, correndo para os braços de minha mãe. Da história, ficamos a ver navios, pois a convicção que ela tinha do horror foi o suficiente para calá-la. Ela tinha convicção daquilo que iria narrar. De minha parte, estou convicto de que aquela foi a história de horror mais assombrosa que eu nunca escutei em toda a minha vida.

 (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 6 de abril de 2015)

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