segunda-feira, 27 de abril de 2015

Chocolate no sofá

Cada pessoa tem seu tempo, seu ritmo para aprender as lições que a vida vai tratando de ensinar. Alguns aprendem mais depressa, outros tardam mais para se dar por conta de noções que, para determinadas pessoas, parecem claras e cristalinas desde sempre. A mesma mensagem enviada na mesma garrafa pode ser decodificada em ritmos e formas diversas dependendo de quem a recolhe na praia. Não existem regras claras para essas coisas. Aprender a ser humano é uma área na qual os manuais não se aplicam. Daí a graça da coisa toda.
Exemplo disso é o fato de que nada cai do céu, exceto chuva e – vá lá – neve, de vez em quando. Eis uma lição importante que se aprenda, de preferência, o mais cedo possível, a fim de que se possa enfrentar a vida, suas dificuldades e as pedras que ela espalha pelo caminho, de forma realista e lúcida. Cada pessoa tem sua própria experiência nesse quesito, sendo que uns aprendem isso de um jeito mais fácil e, outros, só muito levando na cabeça mesmo, mas fazer o que, cada um, cada um e não se pode viver a vida dos outros pelos outros. A consciência disso vai sendo moldada aos poucos e, quando nos damos por conta, percebemos que precisamos trabalhar para conseguir dinheiro (ao menos, de forma honesta) e batalhar duro pela realização de nossos sonhos.
Eu, por exemplo, só fui perceber que creme dental não surge do nada dentro do armário do banheiro quando saí de casa aos 17 anos de idade e fui morar em república de estudantes, em cidade diferente daquela em que nasci, para cursar faculdade. Um belo dia, ao final da segunda semana, terminou o creme dental e tive de atravessar a rua para ir ao mercado, comprar um tubo pela primeira vez em minha vida. Tóin!

Semana retrasada meu afilhado de três anos de idade estava lá em casa, visitando os dindos, e encontrou, por acaso, em uma dobra do sofá da sala, um pedaço esquecido de um ovo de chocolate pascoal, que minha esposa e eu havíamos saboreado ali, na noite anterior. Assim que detectou a guloseima, anunciou para a família o achado e não perdeu tempo em devorá-la. Afinal, chocolate, quando surge do nada nas mãos dele, é para ser consumido. Um dia ele vai aprender que chocolate não brota de sofás da sala (se bem que lá em casa acontecem coisas...). Cada qual com seu processo...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 27 de abril de 2015)

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