Meu amigo Argentino está
apavorado. Quem conhece Argentino há bastante tempo, como eu, sabe que estar
apavorado por alguma razão qualquer chega a ser a condição natural de ser e
estar de Argentino, mas desta vez a coisa parece ser séria. Ao menos, o pavor é
bem sério, apesar de a razão que o motiva continuar sendo, digamos, uma razão
típica das de Argentino. Problema é que, quando ele está assim, ele via de
regra bate lá em casa, e aí, quem escuta sou eu...
Fissurado por assuntos relativos
à astronomia, Argentino foi um dos primeiros brasileiros (Argentino é
argentino, mas possui dupla cidadania, explicado?) a se inscrever no projeto
Mars One, iniciativa de um empreendimento multimilionário norte-americano que
está desenvolvendo uma viagem tripulada rumo ao planeta Marte, prevista para
ocorrer em 2023. A ideia é construir bases no planeta vermelho para
colonizá-lo, em uma viagem de sete meses de duração sem nenhuma parada nem
sequer em Vênus para fazer xixi e comprar cebolitos. Duzentas mil pessoas de
todas as partes do mundo já se inscreveram (dez mil do Brasil, Argentino entre
elas) para se candidatar a compor o pioneiro grupo inicial de quatro
astronautas que irão para lá, entrar para a história.
O que não se sabia é que podem
também entrar pelo cano, uma vez que só agora foi divulgada a informação de que
a viagem é sem volta, ou seja, não existe guichê de vendas de bilhetes rumo à
Terra, em Marte. Quem for, vai ficar. Igual aos imigrantes alemães e italianos
que embarcaram em navios nas famosas viagens de 33 dias pelo Oceano Atlântico
rumo à América no final do século 19. Raros foram os que conseguiram pisar de
novo na terra natal. Já pensou, passar o resto de seus dias em Marte, na
companhia de três outras pessoas somente, sem supermercado, sem tevê a cabo,
sem internet, sem parquinho, sem praia, sem espiga de milho cozido, sem
caipirinha, sem a edição número 23 do BBB Brasil?
Argentino está apavorado porque
tem convicção de que já figura na lista dos quatro selecionados para a missão
(Argentino é um ser de convicções) e não sabe como fazer para cancelar a
inscrição. Não vai poder nem receber cartas da gente. Coitado do Argentino. É o
que dá, mover-se por impulso...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de fevereiro de 2015)
Nenhum comentário:
Postar um comentário