quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Pois é, tem Carnaval

Em fevereiro, como a canção se encarrega de não nos deixar esquecer, tem Carnaval. Sabemos disso e já vamos de antemão nos preparando, tanto os que gostam (carregando as pilhas do pé para soltar o gingado no samba) quanto os que não gostam (à procura de retiros onde se esconder da folia regida por Momo). Sinônimo de festa, alegria, diversão e desopilação dos estresses acumulados ao longo do ano que passou, o Carnaval já serviu de pano de fundo para um ato importante na História não tão remota assim do Brasil. Mas, como nenhuma canção canta o feito, ele acaba sendo varrido para o baú da memória, dispensado igual confete e serpentina em quarta-feira de cinzas.
O Carnaval que entrou para a História foi o de 12 de fevereiro de 1888, exatos 127 anos atrás, portanto. O Brasil ainda vivia os últimos momentos da monarquia comandada por Dom Pedro II (a República seria proclamada já no ano seguinte, em 1889), e o imperador estava na Europa para tratamento de saúde, tendo deixado sua filha, a Princesa Isabel, regendo o país. Como ainda lembramos, a Princesa Isabel era uma defensora ativa do abolicionismo, queria libertar da escravidão a imensa população de negros oriundos da África, e não poupava esforços nesse sentido.
Um desses esforços ficou conhecido como “A Batalha das Flores”, que a Princesa promoveu naquela data de 12 de fevereiro de 1888, dia de Carnaval, em Petrópolis, no Rio de Janeiro, sede da família imperial. Importando uma tradição francesa, ela, juntamente com o marido, o Conde D´Eu, os filhos do casal e alguns amigos, desfilaram pelas ruas da cidade em carruagens ornamentadas com camélias (a flor símbolo dos abolicionistas) e distribuíam as flores para a população, divulgando a causa pela libertação dos escravos. A assinatura da Lei Áurea, pelas mãos da Princesa (que, por causa disso, ficou conhecida como “A Redentora”), viria logo depois, em 13 de maio do mesmo ano.

Carnaval, portanto, em tempos idos, já foi sinônimo de conscientização das massas em favor de uma causa crucial para a evolução da sociedade brasileira. Se fosse hoje, não haveria camélia que bastasse para representar o número de problemas a serem solucionados no país que herdamos da monarquia. Momo, o deus da Folia, parece reinar, hoje em dia, ao longo de todos os 365 dias do ano.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 12 de fevereiro de 2015)

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