Será que somos mesmo uma nação formada por um bando de malversadores do
dinheiro alheio, inclinados ao exercício do mal por propensão genética, devido
a uma má-formação ética e de caráter? Ao contrário do que comumente se imagina,
a tendência à corrupção não é um traço cultural exclusivo do Brasil, mas, sim,
um atributo inerente à condição humana, que se manifesta entre todas as
civilizações, em todas as épocas. A tentação a corromper-se existe em igual
escala em qualquer outra nação e se manifesta em igual intensidade entre os
indivíduos pertencentes a qualquer outro povo.
O que diferencia, a nós, brasileiros, de outros povos mais evoluídos, não
é a tendência maior à corrupção, mas, sim, a existência entre nós de outro
traço cultural deletério que é a leniência, a cumplicidade, a tolerância que
temos para com a corrupção, para com os corruptos, para com os corruptores e
para com os corrompidos. Somos pouco afeitos a estabelecer com rigor mecanismos
que coíbam e inibam a corrupção. Somos mansos em relação aos corruptos. Nosso
problema maior é essa mansidão que temos em excesso quando o assunto é
corrupção.
A verdade é que nós, brasileiros, no íntimo, glamourizamos os corruptos.
Inconfessavelmente, admiramos a inteligência, a audácia, o destemor e a fleuma
deles. Invejamos o status, o poder e as riquezas de que os corruptos desfrutam.
Não desejamos, em nossa grande maioria, sermos corruptos, mas desejamos aquilo que
os corruptos possuem. Covardes que somos, não ousamos, nós, os da grande massa,
sermos corruptos igual a eles, mas tampouco ousamos denunciá-los, condená-los,
persegui-los, rejeitá-los, bani-los, oprimi-los, humilhá-los como eles bem merecem.
O pior de tudo é perceber que nós, brasileiros, ficamos mesmo é chocados
quando vemos um corrupto bem-sucedido, elegante, ser preso, algemado e
humilhado. Habituados ao servilismo como somos, abanamos instintivamente nossos
rabinhos e estendemos nossas patinhas aos ricos, bonitos e perfumados, mesmo
que tenham obtido essa riqueza, comprado os perfumes e feito as plásticas às
expensas do dinheiro roubado dos cofres públicos e por meio de negociatas. Senhores
altaneiros, de terno e gravata, conduzidos algemados em camburões da polícia, é
uma imagem que agride nossas sensibilidades e arranca de nós o mais profundo
sentimento de comiseração e ternura por aqueles pobres ricos corruptos que não
mereceriam serem tratados como se fossem ladrões de galinha.
No fundo, nosso maior problema mesmo é a apatia.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 16 de fevereiro de 2015)
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