quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Eles, robôs

“Futurologia” é o nome que se dá ao exercício (mental, científico, pseudocientífico ou em mesa de bar mesmo) de tentar prever como vai ser o futuro a partir da evolução (ou involução) dos elementos que compõem o cenário do presente. Vários escritores e diretores de cinema se consagraram levando à literatura e às telas de cinema seus sonhos e visões mais alucinantes sobre como seria o futuro a partir do alcance de suas imaginações.
Foi assim que recebemos os legados ficcionais de criadores como George Orwell, Aldous Huxley, Ridley Scott, Orson Welles, Stanley Kubrick, Andrei Tarkovski, H.G. Wells, Arthur C. Clarke, Philip K. Dick, Jules Verne e tantos outros, a embalarem nossos sonhos e pesadelos sobre o que poderia vir a ser o mundo que o futuro nos reserva. Um desses gênios criativos em especial anda me chamando a atenção, por parecer, a partir do que venho detectando no dia-a-dia, que conseguiu antever com perfeição um aspecto importante da transformação do mundo, a ponto de se poder dizer que, sim, o futuro já chegou.
Trata-se do escritor norte-americano (nascido na Rússia e depois naturalizado) Isaac Asimov (1920-1992), que dedicou grande parte de sua extensa obra literária ao fenômeno do surgimento dos robôs e de como se daria a interação dessas máquinas, cada vez mais humanas, na sociedade. “Eu, Robô”, “Fundação”, “O Homem Bicentenário” são algumas de suas obras que marcaram tanto a literatura de ficção-científica quanto o cinema, a partir da transposição às telas daquilo que o autor vinha imaginando: robôs agindo como gente, no ambiente do cotidiano, confundindo-se com seres humanos e causando confusão.

Sinto-me dentro de um livro de Isaac Asimov, por exemplo, sempre que entro em algum elevador e sou rapidamente cercado por meia dúzia de robôs que não olham nos olhos, não cumprimentam, não falam, apenas ficam absortos em maquininhas que carregam consigo, teclando ininterruptamente não sei o quê, certamente com outros robôs, à distância. Eles estão também nas calçadas, nos estabelecimentos, nas casas: alheios ao mundo, muitas vezes com fones-de-ouvido, absortos nas maquininhas. Os robôs chegaram. E, com eles, o futuro. E, com ele, uma estranha desumanização da vida.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 28 de janeiro de 2015)

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