sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Banho e tosa

Banho e tosa. Um verdadeiro festival, que se materializa em grande parte das residências que circundam o prédio em que moro. O fenômeno, conforme detecta a investigação que decidi aprofundar, se alastra por toda a vizinhança e, a julgar pela idoneidade da amostragem levantada, trata-se de uma verdadeira mania nacional. Um traço cultural tipicamente brasileiro, ousaria eu afirmar.
Banho e tosa de final de ano. É a isso que me refiro. Mas não, minha senhora, não se trata de levar os animaizinhos de estimação (cachorrinhos, gatinhos, cachorrões e hamsters – alguém ainda possui hamster de estimação, por sinal?) até a clínica veterinária, a fim de que sejam lavados, escovados, tosados, penteados e perfumados (alguns chegam até a serem engravatados) para se colocarem prontinhos para as celebrações de final de ano. Não, nada disso. Refiro-me aqui hoje ao banho e tosa a que são submetidas as residências brasileiras pelos seus proprietários em férias ou curtindo merecido feriadão prolongado, durante as festas de final de ano.
Se o amigo leitor e a amiga leitora ainda não tiveram a oportunidade de observar, marquem isso na agenda para prestarem atenção no findar de dezembro deste 2015 que se inicia, e verão que tenho razão. Não faltarão ao seu redor vizinhos esmerados que tirarão as escadas dos porões (ou dos sótãos, ou mandarão vir emprestada dos cunhados e primos) a fim de alcançarem telhados e o cimo das paredes, colocando mãos a obra. Quem não aproveitar a época para dar um banho de tinta na residência, alternando sua cor bege para vermelho-fogueira, vai se esmerar na lavagem das paredes e telhados, deixando a casa tinindo.

Só aqui em volta, em uma rápida olhada, detectei seis casas que foram ou lavadas ou pintadas. A tosa onde é que entra nessa história? Pois sim, madame, entra também na cortação de grama dos jardins e quintais, pois que se o vizinho já está com a mão no pincel ou no esfregão, não custa também aparar o gramado. Afinal, vale a pena um pequeno esforço para gerar a sensação de que o novo ano se inicia realmente com nova roupagem. Agora, mãos à obra novamente, que novos doze meses esperam por nós.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 2 de janeiro de 2015)

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