quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Sozinho não, né

Aconteceu nos Estados Unidos, no início de novembro. O sujeito, um sueco chamado Fredrik Wilkingsson (pela aparência, deve ter uns 40 anos), foi contemplado com o privilégio de assistir a um show de Bob Dylan apresentado só para ele. Repito: só para ele. Era Bob Dylan e os quatro integrantes de sua banda no palco e o sueco solito lá, sentado em uma das centenas de poltronas aveludadas do elegante Philadelphias´s Academy of Music, na Filadélfia. Eita!
Como isso? Levou a melhor em um sorteio bizarro? Não, nada disso. Wilkingsson foi escolhido para protagonizar uma das experiências comportamentais desenvolvidas por pesquisadores de uma fundação sueca que estuda a felicidade humana, visando à produção de um documentário para a televisão. Os voluntários aceitam se submeter a experiências que normalmente seriam realizadas em grupo, para relatar as emoções que sentiram ao vivenciarem sozinhas essas situações, que acabam se tornando surreais.
Além de ir a um concerto de rock sozinho e não ter com quem comentar os detalhes do show, os pesquisadores desenvolveram com os voluntários atividades como brincar sozinho em um parque de diversões; jantar só em um restaurante grã-fino com direito a tudo do bom e do melhor (não sozinho na mesa, mas com o restaurante todinho vazio, só você, o cozinheiro e o garçom); coisas do gênero. A intenção é analisar uma questão fundamental: é possível apreciarmos sozinhos, na sua totalidade, uma experiência que deveria ser compartilhada? Até que ponto o ato de compartilhar um prazer faz parte essencial desse próprio prazer? Interessante...

Fiquei aqui pensando em sugestões que eu poderia dar para os pesquisadores enriquecerem as experiências propostas aos seus voluntários solitários: um jogo de pingue-pongue em que você, sozinho, faz o pingue e o pongue; um amigo-secreto de final de ano só entre você e você; uma maratona em que só você corre; um jogo de futebol em que você é o único jogador em campo, com direito a empilhar gols ao longo de intermináveis 90 minutos. Coisas assim. Qual é a graça? Ah, pois é...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 17 de dezembro de 2014)

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