quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Rumo ao Beleléu

Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. E um viva às frases de efeito, que nos socorrem generosamente sempre que a criatividade pega as malas e vai-se ao Beleléu (que é que tanto faz minha criatividade lá em Beleléu é algo que ainda terei de investigar, oportunamente). Mas o lugar-comum a que lancei mão ali na abertura deste texto se justifica porque desejo tecer um comentário sobre a importância de sermos prudentes (como dizia um selvagem amigo meu chamado Oscar) em tudo, sem exageros, sem obsessões.
O equilíbrio é sempre a melhor prevenção contra um joelho esfolado (essa inventei agora, palmas, palmas). Digo isso porque, dias atrás, um amigo meu me alertava sobre os riscos à saúde existentes no fato de eu portar o telefone celular dentro do bolso esquerdo das minhas camisas. “Trata-se de uma potente fonte de energia e isso, quando acionado, dispara fortes descargas elétricas que podem não fazer bem ao coração”, informava meu amigo, no que está coberto de razão. Sua admoestação me fez refletir e, desde então, ando portando meu celular dentro de uma pasta que carrego comigo para cima e para baixo quando me lanço às ruas ao léu (não em Beleléu, lugar mais belo do que o Léu, como o nome já indica), repleta de utilidades como sombrinha azul-clarinha para espantar a chuva, bloco de notas, caneta para escrever as notas no bloco de notas, livro para ler quando espero (nas salas de espera, nas lojas em que a esposa se some, nos cafés antes das reuniões), balinhas refrescantes, pen drive e outras coisitas.
Estava eu feliz e contente com minha nova atitude quando chega a notícia de que um cidadão caxiense, dias atrás, ao reagir a um assalto em um estabelecimento comercial, levou um tiro no peito desferido pelo criminoso e só não morreu porque a bala atingiu o aparelho celular que ele portava. Onde? Sim, ali mesmo, no bolso esquerdo da camisa! Não fosse isso, o sujeito já teria ido se encontrar com a minha inspiração lá em Beleléu! E agora, como é que fica? Bom, fica tudo igual, o celular segue na pasta. Afinal, pensando bem, jamais reagirei a um assalto. Prefiro seguir por aqui mesmo, ao léu.

 (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 4 de dezembro de 2014)

Nenhum comentário: