domingo, 23 de novembro de 2014

Eu só quero chocolate

Ah não! Agora essa! Notícias apavorantes circularam esta semana nos sites dos jornais, aventando a possibilidade de, em um futuro próximo, acabarem-se as reservas de chocolate no planeta! Que coisa terrível! Nervoso após ler a ameaça, passei a madrugada insone, com dor de barriga, por ter devorado sozinho uma caixinha de Bis Lacta, ansioso que fiquei.
E quem avisa da iminente tragédia são justamente as indústrias chocolateiras, impressionadas com o ritmo do aumento do consumo de chocolate ano a ano no planeta. Andamos devorando tanto chocolate, com tanta avidez e alegria, que a indústria não está mais dando conta e as plantações de cacau estão se vendo pequenas frente a tanta demanda. Anos atrás, na década de 1980, surgiu no mundo a paranoia de que o petróleo iria acabar porque se tratava de um recurso natural não renovável. Ora, passaram-se três décadas, o número de veículos rodando pelo planeta só fez aumentar e ninguém fala mais em perigo de fim do petróleo. Até porque, trata-se de um combustível fóssil, tem origem nos restos de dinossauros sedimentados no fundo dos oceanos e, pelo que eu saiba, o que não falta é arqueólogo desencavando ossinho de dinossauro por todos os cantos do mundo, o tempo todo. Cada fêmur de tiranossauro-rex encontrado é um litro de gasolina a mais no meu Opalão.

Mas com o chocolate a coisa é mais amarga. Se ninguém plantar mais cacau e continuarmos a devorar sem parcimônia os Chokitos, Prestígios, Sensações e Sonhos de Valsa, o leite vai azedar rapidinho. Um mundo desprovido de chocolate é inimaginável. Tão grave, na minha concepção, quanto um mundo desprovido de mico-leão dourado, de baleias, de tigres-de-bengala e de pessoas gentis, essas coisas todas que sabemos que andam em franco processo de extinção. Suportaríamos até mesmo um mundo desprovido de petróleo, pois retornaríamos ao transporte por carroças, a pé e de carrinho-de-mão (os mais novos empurrando os mais velhos, já vamos combinando agora). A energia para isso? Ora, tiraríamos das indispensáveis e vitais barras de chocolate, que não podem, não podem, não podem acabar.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 22 de novembro de 2014)

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