sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Saudades de ruas

Sou um cidadão urbano, nascido na cidade e na cidade sempre vivido. Sendo essa a minha condição, compreendo as motivações que embasam as iniciativas de vereadores quando apresentam projetos de lei que batizam ruas, avenidas, praças e demais logradouros públicos com os nomes de pessoas ou de datas significativas. No caso das gentes, trata-se de justa homenagem àquelas pessoas que, por razões as mais diversas, revestiram suas biografias de valor a tal ponto que merecem ser lembradas pelos cidadãos do presente e do futuro. No caso das datas, para que a memória referente aos fatos históricos não ceda às tentações do esquecimento.
Vá lá, vá lá, compreendo isso tudo. As cidades vão envelhecendo, vão acumulando história, deixam de ser crianças, amadurecem e precisam ir prestando homenagens aos seus próceres, aos próceres do Estado, do país, do mundo. Entendo, mas também lamento. Acho uma pena que, assim, o romantismo vá desaparecendo do meio-fio das ruas de nossas cidades, dos balanços das pracinhas, dos canteiros das avenidas, dos chafarizes, dos escorregadores das crianças, dos banquinhos dos aposentados.
Gostava mais de vivenciar minha vida urbana em cidades cujas ruas fossem nominadas como antigamente, a partir de características próprias e peculiares de seus entornos. Há mais valor poético, humano e vital ao caminhar por lugares chamados Rua do Arvoredo, da Praia, das Camélias, da Ladeira. Em Caxias havia a Rua Grande. Em Ijuí ainda existe a Rua do Comércio. Gostaria de passear algum dia por alguma Rua do Perfume das Amoreiras, ou por uma Avenida do Passaredo Matinal, ou pela Viela da Figueira Velha. Uma Travessa do Cachorro Bravo, por exemplo, que mantivesse o nome mesmo depois de morto o cachorro e de ninguém mais na vizinhança se lembrar dos donos.

Em Caxias, as crianças de outrora brincavam no Parque dos Macaquinhos e, apesar de oficialmente não se chamar mais assim, ao menos insistimos em manter viva no cotidiano da cidade a denominação. Até eu sinto saudades daqueles macaquinhos do parque, que nunca conheci. Também, o que esperar de alguém que foi aprendendo a ser gente em uma Rua dos Viajantes?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de outubro de 2014) 

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