quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O Batman na missa

Fiquei sabendo que, lá pelo início dos anos 1980, o Batman costumava frequentar a missa das 10 da manhã na Catedral Diocesana aqui em Caxias, com a devida anuência do padre e também da mãe do destemido vigilante mascarado. Como tudo na vida funciona à base da negociação, a dita mãe (leitora minha, que me contou o fato) só conseguia arrastar o filhote à missa se permitisse que fosse fantasiado de Batman.
Pelo que posso depreender, creio que a negociação se dava nos seguintes termos: nada de máscara e indumentária completa, apenas a capa. Afinal, um Batman de oito anos de idade trajando uniforme completo poderia causar mal estar no padre e nos coroinhas e apenas uma singela capa talvez não fosse assim tão dissonante do contexto todo. E vai que a moda pegasse e na semana seguinte os bancos da missa das dez da manhã na Catedral passassem a ser ocupados por pequenos Super-Homenzinhos, Hominhos-Aranha, Mulherezinhas-Maravilha, Homenzinhos-de-Ferro, Hulkinhos, a Liga da Justiça e os Vingadores completos? Ficaria estranho. E se um deles inventasse de ir de Pinguim ou de Coringa, haveria lutinha nos fundos da sacristia? Não iria dar certo.
O fato é que, apesar da capa (ou justamente devido à capa), o garoto foi à missa com a mãe e hoje, passadas três décadas, enche-a de orgulho sendo um profissional de destaque em sua área, morando, inclusive, no estrangeiro. Viva a capa, viva a missa, viva a complacência do padre e, especialmente, a sensibilidade e o tino da mãe. Afinal, não poderia ser uma mera capa de morcego a impedir a aproximação de Batman dos bancos da igreja.

Eu, nos meus tempos em Ijuí, me vestia de Zorro. A máscara era tosca, dura, feita de plástico. Havia a capa preta e, especialmente, a espadinha de borracha, com a qual eu me botava a cutucar todo o adulto que a meus olhos se assemelhasse ao Sargento Garcia. Levei alguns petelecos por isso e horrorizei a família ao esculpir um “Z” no batente da porta da cozinha, deixando uma marca eterna de minhas artes na casa da Rua dos Viajantes. Mesmo que por linhas tortuosas, começava a gostar de causar sensação com as letras...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 9 de outubro de 2014)

Nenhum comentário: