Fiquei sabendo que, lá pelo
início dos anos 1980, o Batman costumava frequentar a missa das 10 da manhã na
Catedral Diocesana aqui em Caxias, com a devida anuência do padre e também da
mãe do destemido vigilante mascarado. Como tudo na vida funciona à base da
negociação, a dita mãe (leitora minha, que me contou o fato) só conseguia
arrastar o filhote à missa se permitisse que fosse fantasiado de Batman.
Pelo que posso depreender, creio
que a negociação se dava nos seguintes termos: nada de máscara e indumentária
completa, apenas a capa. Afinal, um Batman de oito anos de idade trajando
uniforme completo poderia causar mal estar no padre e nos coroinhas e apenas
uma singela capa talvez não fosse assim tão dissonante do contexto todo. E vai
que a moda pegasse e na semana seguinte os bancos da missa das dez da manhã na
Catedral passassem a ser ocupados por pequenos Super-Homenzinhos, Hominhos-Aranha,
Mulherezinhas-Maravilha, Homenzinhos-de-Ferro, Hulkinhos, a Liga da Justiça e
os Vingadores completos? Ficaria estranho. E se um deles inventasse de ir de
Pinguim ou de Coringa, haveria lutinha nos fundos da sacristia? Não iria dar
certo.
O fato é que, apesar da capa (ou
justamente devido à capa), o garoto foi à missa com a mãe e hoje, passadas três
décadas, enche-a de orgulho sendo um profissional de destaque em sua área,
morando, inclusive, no estrangeiro. Viva a capa, viva a missa, viva a
complacência do padre e, especialmente, a sensibilidade e o tino da mãe.
Afinal, não poderia ser uma mera capa de morcego a impedir a aproximação de
Batman dos bancos da igreja.
Eu, nos meus tempos em Ijuí, me
vestia de Zorro. A máscara era tosca, dura, feita de plástico. Havia a capa
preta e, especialmente, a espadinha de borracha, com a qual eu me botava a
cutucar todo o adulto que a meus olhos se assemelhasse ao Sargento Garcia. Levei
alguns petelecos por isso e horrorizei a família ao esculpir um “Z” no batente
da porta da cozinha, deixando uma marca eterna de minhas artes na casa da Rua
dos Viajantes. Mesmo que por linhas tortuosas, começava a gostar de causar
sensação com as letras...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 9 de outubro de 2014)
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