Olha só: hoje, 22 de outubro, é
dia do paraquedista, dia do enólogo e dia da praça. Hein? Como eu sei disso? Se
sou paraquedista? Não, senhora, tenho medo de altura, sofro de vertigem
crônica. Evito até mesmo olhar para a ponta dos meus pés quando estou
caminhando, a fim de não tontear na esquina. Se sou enólogo? Tampouco, madame.
Aprecio meus vinhotes lá de vez em quando, acompanhando a leitura de um bom
livro no sofá da sala, mas mal diferencio branco de tinto. Como? Não, não,
muito menos isso: ainda não tenho praça com meu nome, pois eis que, pelo que me
consta, sigo ainda vivo e não sou merecedor de tal deferência.
Como, então, sei dessas datas
comemorativas? Ah pois, a internet, senhora, a tal da internet. A gente dá uma
espiadinha lá no site certo e fica sabendo dessas coisas, muito úteis para despertar
inspirações. Claro que, se eu fosse um enólogo paraquedista, aproveitaria o dia
de hoje para saltar sobre a praça Dante degustando um cálice de malbec ao longo
da descida, sem derramar sequer uma gota sobre as cabeças dos extasiados
transeuntes lá embaixo. Mas não sou nem uma coisa nem outra e tenho mais o que
fazer do que ficar sentado o dia inteiro hoje lá na praça na expectativa de que
algum paraquedista venha a saltar bebericando vinho ou algum enólogo destemido
ouse fazer uma degustação descendo de paraquedas. Acho difícil isso vir a
acontecer.
Melhor, então, aproveitar o mote
para fazer o que julgo saber desempenhar relativamente bem: escrever uma
crônica. Não uma crônica sobre saltos de paraquedas e nem sobre a arte de
degustar vinhos, mas, sim, sobre praças, que, entre os três elementos, me
parece ser o de maior potencial romântico para se transformar em literatura.
Falemos então sobre praças aqui, hoje, nesse dia em que elas deveriam ser
lembradas.
Pena que o espaço está acabando
e não vai mais dar para desenvolver grandes reflexões a respeito desses
agradáveis logradouros públicos que servem de cenário para o desenrolar da vida.
Mas fica, ao menos, a sugestão: hoje, dê uma passadinha em uma praça, note a
presença dela, saboreie-a. Garanto que fará um enorme bem a si mesmo.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 22 de outubro de 2014)
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