quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Malbec de paraquedas na praça

Olha só: hoje, 22 de outubro, é dia do paraquedista, dia do enólogo e dia da praça. Hein? Como eu sei disso? Se sou paraquedista? Não, senhora, tenho medo de altura, sofro de vertigem crônica. Evito até mesmo olhar para a ponta dos meus pés quando estou caminhando, a fim de não tontear na esquina. Se sou enólogo? Tampouco, madame. Aprecio meus vinhotes lá de vez em quando, acompanhando a leitura de um bom livro no sofá da sala, mas mal diferencio branco de tinto. Como? Não, não, muito menos isso: ainda não tenho praça com meu nome, pois eis que, pelo que me consta, sigo ainda vivo e não sou merecedor de tal deferência.
Como, então, sei dessas datas comemorativas? Ah pois, a internet, senhora, a tal da internet. A gente dá uma espiadinha lá no site certo e fica sabendo dessas coisas, muito úteis para despertar inspirações. Claro que, se eu fosse um enólogo paraquedista, aproveitaria o dia de hoje para saltar sobre a praça Dante degustando um cálice de malbec ao longo da descida, sem derramar sequer uma gota sobre as cabeças dos extasiados transeuntes lá embaixo. Mas não sou nem uma coisa nem outra e tenho mais o que fazer do que ficar sentado o dia inteiro hoje lá na praça na expectativa de que algum paraquedista venha a saltar bebericando vinho ou algum enólogo destemido ouse fazer uma degustação descendo de paraquedas. Acho difícil isso vir a acontecer.
Melhor, então, aproveitar o mote para fazer o que julgo saber desempenhar relativamente bem: escrever uma crônica. Não uma crônica sobre saltos de paraquedas e nem sobre a arte de degustar vinhos, mas, sim, sobre praças, que, entre os três elementos, me parece ser o de maior potencial romântico para se transformar em literatura. Falemos então sobre praças aqui, hoje, nesse dia em que elas deveriam ser lembradas.

Pena que o espaço está acabando e não vai mais dar para desenvolver grandes reflexões a respeito desses agradáveis logradouros públicos que servem de cenário para o desenrolar da vida. Mas fica, ao menos, a sugestão: hoje, dê uma passadinha em uma praça, note a presença dela, saboreie-a. Garanto que fará um enorme bem a si mesmo.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 22 de outubro de 2014)

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