terça-feira, 7 de outubro de 2014

Convite mágico

Entreouvidos em um salão de beleza, onde quem presenciou a cena pintava as unhas (não, não era eu, ainda não aderi à onda capitaneada pelo escritor Fabrício Carpinejar, de homens de unhas pintadas, por pura preguiça ou, talvez, por falta de coragem). Mas eu dizia...? Ah, sim, sobre uma cena ocorrida nos domínios infinitos de um salão de beleza, enquanto minha fonte secreta deixava que lhe pintassem as unhas de que mesmo...? Vermelho amor-perfeito? Vermelho Gabriela? Vermelho deixa beijar? Bom, algum vermelho desses de nome criativo, mas era vermelho, né, amor? Adiante.
A minha fonte essa lá, mãozinha estendida, o esmalte lhe sendo pincelado delicada e concentradamente pela manicure (que quando lhe faz os pés se transforma em pedicure e suponho que, ao cortar-lhe os cabelos, vire cabelocure) e o filhote dela, da manipedicabelocure, de oito anos, circulando pelo salão, interagindo com as freguesas. Ele gosta de fazer mágicas, o garoto. Estaciona defronte às clientes que folheiam revistas enquanto aguardam a vez e se bota a encantá-las com seus truques ainda não bem treinados, o que tem o poder de encantar ainda mais e enternecer o coração de mãe que bate dentro de qualquer cliente de salão de beleza, seja ela já mãe ou não, seja ele já pai ou não. Sim, porque dentro de homem também pode bater coração de mãe, acredite. Já vi. Existe e não é mágica.
Pois o garoto ali, magicando para a cliente e falando com ela, até que lhe faz a pergunta sobre se ela iria sábado ao aniversário da Júlia. “Não, não vou”, respondeu a cliente, surpresa. “Eu não conheço essa Júlia”, emendou ela. “Ué, mas se você for, você vai conhecê-la”, respondeu o mágico garoto, imerso em sua irretrucável lógica de oito anos de idade. Na visão dele, o fato de a cliente não conhecer Júlia não é argumento válido para ela se fazer ausente da festa de Júlia no sábado. Pelo contrário, trata-se mesmo é de um bom motivo para ir à festa, a fim de lá, então, conhecer Júlia. Mágica, pura mágica. Eu, fosse ela, iria, e a Júlia que perdoasse o penetra.

 (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 7 de outubro de 2014)

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