domingo, 21 de setembro de 2014

Poetisa farrapa

Os historiadores sabem, mas a gente até que estuda (só para a prova, claro) essas coisas na escola e, depois, displicentemente apaga da memória, o que é um crime não só contra a história em si, mas especialmente contra nós mesmos, uma vez que somos frutos diretos das ações de todos aqueles que nos antecederam para criar esse aqui e agora em que vivemos. A Revolução Farroupilha, que celebramos neste 20 de setembro, é um acontecimento histórico dos mais significativos já vivenciados pelo povo gaúcho, repleto de episódios interessantes que ou desconhecemos por completo ou simplesmente relegamos para o baú de nossas memórias. Vale a pena relembrar alguns deles.
É interessante constatar que nem tudo foi harmonia e entendimento entre os líderes revolucionários que capitanearam a revolução gaúcha naqueles idos de 1835. Os primos Bento Gonçalves e Onofre Pires, por exemplo, eram parceiros revolucionários de primeira hora, porém, com o passar dos anos, acabaram se desentendendo. E feio.
 Mas tão feio que concordaram em aparar suas arestas por meio de um duelo, que teve lugar em Santana do Livramento, às margens do Rio Sarandi, no dia 27 de fevereiro de 1844. Quem levou a melhor foi Bento Gonçalves, que atingiu Onofre Pires com um tiro no braço. O duelo foi interrompido e o próprio Bento ajudou a socorrer o primo vencido. Onofre Pires morreu por causa da gangrena, quatro dias depois e um ano antes do fim da Revolução Farroupilha. Bento Gonçalves virou até nome de cidade aqui na Serra, mas Onofre Pires, hoje em dia, fica meio à sombra dos personagens históricos mais lembrados da Revolução.

Interessante é constatar alguns laços familiares de personagens como ele. Onofre tinha uma irmã, chamada Antônia Clara Barbosa de Menezes de Campos. Ela era casada com o médico porto-alegrense Manoel José de Campos, o Barão de Guaíba. Este, por sua vez, era padrinho de Paulo de Campos Cartier, pai da poetisa Vivita Cartier (patrona da cadeira 11 da Academia Caxiense de Letras). Ou seja, o padrinho do pai de Vivita era cunhado de Onofre Pires. Dado que nos permite deduzir que Vivita Cartier também tinha alma farrapa.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 20 de setembro de 2014) 

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