quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Poeta, porém Patrícia

Nossa, compadre, te falo em ver um cara desolado! É nas crises pessoais, naqueles momentos em que você está atolado no fundo do poço, que se percebe quem é amigo de verdade, não é assim que as coisas são? Pois é, é isso mesmo.
Todos nós já estivemos, alternadamente, em alguma das pontas dessa equação importante dos relacionamentos humanos, a amizade. Tanto já estivemos no fundo do poço, precisando de uma mão amiga, quanto já estivemos na condição de sermos o dono da mão que deverá ser estendida ao amigo encalacrado no fundo do poço. Pois então, compadre, estou numa saia justa com meu amigo Argentino, porque o cara, tchê, está no fundo do fundo do poço e não sei o que fazer para ajudá-lo a sair de lá. Vou te contar o que se sucede, aguenta as pontas e sorve mais um mate enquanto escuta.
Argentino, você sabe, apesar de ser meio atabalhoado, é um homem generoso, romântico e de alma poética. Pois sendo assim, aconteceu, faz tempo já, de se apaixonar profunda e platonicamente por ninguém menos do que a jornalista e apresentadora de telejornais Patrícia Poeta. Linda, charmosa, inteligente e dona de sobrenome poético, a jornalista gaúcha arrebatou, sem querer e nem imaginar, o coração de meu amigo. Ele, nas solidões noturnas de seu quartinho alugado mal iluminado, dedica-se há anos a produzir longos poemas de amor a serem um dia endereçados a ela lá no centro do país, na esperança (vã, claro) de arrebatar a alma, as atenções e a paixão da encantadora jornalista.

Só que agora chega a notícia de que Patrícia Poeta acaba de adquirir uma mansão de frente para o mar, no Rio de Janeiro, no valor de 23 milhões de reais. Com isso, Argentino finalmente caiu na real e percebeu que não há no mundo verso poético bem cadenciado capaz de rivalizar com a poesia existente na conta bancária de um marido rico e poderoso. Argentino achava que ela era mais Poeta do que Patrícia. É, compadre, poeta mesmo, nessa equação toda, é meu amigo Argentino. Quem mandou se encantar pela Patricinha? Como consolar agora o cara? Acho que vou presenteá-lo com um livro de sonetos...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de setembro de 2014)

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