segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Os sete neopecados

Luxúria, preguiça, inveja, ira, gula, avareza e soberba. Todos conhecem esses sete atributos, ou melhor, esses sete defeitos da condição humana, agrupados há séculos sob o conceito de pecados capitais, ou seja, erros difíceis de serem perdoados aos olhos da maioria das religiões. Se são difíceis de serem perdoados, fica intrinsicamente dado o alerta de que o melhor mesmo seria evitá-los.
Segundo o teólogo e monge grego Evágrio Pôntico (345 a 399 d.C.), essas deturpadas paixões humanas seriam o resultado de desequilíbrios que a ausência do divino provocaria nas pessoas. A luxúria seria o resultado do desequilíbrio na esfera do prazer e do sexo. A gula seria um desequilíbrio da alimentação; o orgulho, um desequilíbrio da autoestima e assim por diante. Com o passar dos séculos, os pecados capitais perderam o peso de condenações divinas para assumirem um papel de desvios comportamentais sociais a serem tratados especialmente nos divãs dos psicanalistas.
Claro, seguem valendo, seguem preocupando e suas consequências ainda podem trazer efeitos devastadores aqui mesmo nessa vida. Excesso de ira pode levar à cadeia; preguiça em demasia pode resultar em derrocada financeira; muita gula ameaça a saúde; luxúria demais pode trazer doenças e complicações passionais; inveja corrói por dentro; avareza afasta as pessoas e soberba produz antimarketing pessoal.

Mas nesses nossos tempos modernos, as notícias vindas pela mídia e a nossa própria experiência pessoal diária parecem apontar o surgimento de outro septeto de defeitos de caráter humano, que poderiam ser classificados como “Os Sete Pecados Atuais”. A meu ver, são esses: Intolerância (berço de aberrações como homofobia e racismo), Violência; Leviandade; Individualismo; Desamor; Materialismo e Imediatismo. As más notícias que nos chegam ao conhecimento todos os dias decorrem desses fatores que, a julgar pelas consequências nefastas que trazem, configuram-se em males maiores do que apenas pecados. Se o inferno religioso anda preocupando a poucos, o inferno na Terra é uma realidade perigosa que precisa ser duramente combatida.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 15 de setembro de 2015)

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