sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Café no bule

Meu afilhado está apenas com dois anos e meio, mas o tempo a gente sabe que voa e não vai demorar muito para ele estar grandinho e disparando perguntas cabeludas que vão deixar os adultos ao redor de saia justa. Principalmente os pais, que serão os alvos preferenciais de sua curiosidade, seguidos pelos professores. Mas depois vêm os dindos, e é aí que entro eu na jogada. Por isso que já estou aqui me preparando, porque não quero passar vergonha frente às novas gerações da família, já que João Vitor, além de afilhado, é sobrinho.
Fico imaginando aqui, fazendo uma projeção de futuro, alguns momentos eventuais em que os pais de meu afilhado, já exauridos de tanto responder perguntas e de rebolarem para se saírem bem das já citadas (mas sempre inesperadas) saias justas a que se verão confrontados, optarem por de vez em quando passar o abacaxi para o lado de cá, dizendo: “pergunta lá pro teu padrinho, que é jornalista”. E lá virá o João Vitor, perguntando: “Dindoooo, o que é café descafeinado?”. Para evitar aquela cara de tacho de quem nunca sequer pensou sobre o assunto, é bom já ir me preparando.
Café descafeinado, por exemplo. Pois é, o que é, hein? A senhora ali, saberia me dizer? Sim, claro, é café sem cafeína, mas a senhora acha que isso vai satisfazer a curiosidade futura de meu perguntativo afilhado? Não, né, terei de ir além. Afinal, sou o dindo jornalista. Existem, minha cara senhora, pelo menos cinco métodos para exorcizar para fora do café as moléculas de cafeína, sabia a senhora disso? Hein? Não sabia, né? Nunca deve ter perguntado isso ao seu padrinho. Ah, bem, é verdade, no seu tempo não havia essas coisas de café sem cafeína, verdade, tem razão a senhora. Mas existem cinco métodos. Pelo menos. E me dá uns dias que saberei detalhar um por um. Estou me preparando. Que venha o afilhado, com essas e com todas as outras que bem entender (ou que quiser entender).

Se bem que... bobagem, Marcos. Que padrinho jornalista o quê. Para tirar suas dúvidas, ele vai, no mínimo, fazer o mesmo que estou eu fazendo agora: uma rápida busca google. “Dãããã”, vai me dizer ele, no futuro.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 12 de setembro de 2014)

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