quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Fórmula no café

A gente, quando está vivendo a chamada fase escolar, é comum que se fique indignado com os conteúdos de algumas matérias que os professores tentam heroicamente fazer entrar em nossas cabeças, a maioria delas ocas, outras tantas duríssimas como adamantium (a liga metálica fictícia com a qual são formadas as garras do Wolverine, isso todo mundo sabe o que é, né, até eu).
Pois eu me lembro que ficava indignado por ter de decorar a Fórmula de Bhaskara, que, a meu ver, jamais serviria para qualquer coisa em minha futura vida prática. Somar, dividir, multiplicar e diminuir, sim, pareciam operações importantes e aplicáveis no dia-a-dia, especialmente para administrar a mesada que garantia a  merenda no recreio. Mas Bhaskara? Bah!
Porém, nada como uma década depois da outra para derrubar nossos preconceitos e enfim encontrarmos a luz que nos faz enxergar e redimir os esforços de nossos antigos e empenhados mestres. Foi sentado à mesa de um café que costumo frequentar que me dei por conta da importância dos preceitos básicos da análise combinatória que tanto tentaram me ensinar naqueles tempos de quadro-negro (que era teimosamente verde).
Sim, porque hoje em dia não basta você apenas sentar e pedir um capuccino e pensar que seu serviço de cliente está encerrado e basta esperar pela entrega do pedido. Nananana, não basta ser cliente, tem de participar. Você precisa decidir se deseja um capuccino grande ou pequeno? E depois de optar pelo grande, escolher se quer com ou sem chantilly? Tá, grande sem chantilly. Sim, mas com ou sem raspas de chocolate? Grande, sem chantilly e com raspas de chocolate. Já sua esposa quer um pequeno com chantilly e com raspas de limão.

 Quantas opções, no fim das contas, existem? Quantas pessoas você pode convidar para tomar capuccino com você sem que nenhuma repita o mesmo pedido? Ahá! Seu professor de matemática sabe a resposta. A moça que atende no café também. E você aí? Quem mandou cabular aula de análise combinatória?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 28 de agosto de 2014)

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