terça-feira, 5 de agosto de 2014

A saga de Sid ao Sul

Dia desses andei lendo – meio por alto, confesso –, na imprensa navegada e folheada, acerca de um bicho-preguiça que, em abril deste ano, apareceu aqui no Rio Grande do Sul na boleia de um caminhão. O caroneiro secreto só foi descoberto quando o caminhoneiro chegou em casa, na região metropolitana de Porto Alegre, após uma longa viagem de dois meses e cerca de 1,5 mil quilômetros percorridos, desde Minas Gerais. Que jornada fez o bicho!
Encaminhado ao Zoológico de Sapucaia, o visitante inesperado logo recebeu todos os cuidados da equipe de veterinários, que tratou de adaptá-lo às variações insanas de nosso clima (eu, que nasci aqui há quase meio século, ainda não consegui me adaptar... acho que me faria bem uma temporada de internação aí no zoo, onde costumam bem receber bichos-preg... epa, nada de gracinhas aí!) e de cuidar de sua saúde, a fim de habilitá-lo a retornar a seu habitat natural. O turista acidental mineiro (supõe-se que seja mineiro, apesar de o caminhoneiro desconfiar de que o “carona” tenha jogado a mochila e subido a bordo no Paraná, onde foi sua última parada antes de chegar em casa) recebeu aqui o nome de Sid, e agora uma operação especial providenciou seu retorno à natureza, porém, não em Minas, mas em Tocantins. Ah, e dessa vez foi de avião. Nem precisou utilizar as milhas de seu cartão de crédito.
O que ninguém conseguiu me esclarecer - e aí é que faço a crítica a meus colegas jornalistas – é o que motivou Sid a desejar tanto vir passear aqui no Rio Grande do Sul, a ponto de encarar uma aventura dessas? Queria ver o pôr-do-sol do Guaíba? Visitar os encantos da Serra Gaúcha e degustar uma polenta brustolada sobre a chapa de um fogão a lenha? Conhecer a história silenciosa que paira no entorno das majestosas ruínas de São Miguel das Missões? Experimentar uma costela gorda assada em espeto de pau fincado no chão em volta de uma fogueira enquanto sorve um chimarrão preparado por um autêntico peão de estância?

Pois é, fiquei sem saber. Ninguém entrevistou o Sid e ele foi-se embora, embrenhar-se nas matas do Tocantins. Eu aqui, chimarreando em casa, tenho uma desconfiança: Sid até queria viajar para conhecer as maravilhas de nosso Estado. Porém, ao cruzar a fronteira a bordo do caminhão e ter uma degustação da situação precária de nossas estradas, achou melhor desistir, permanecer umas semanas no spa do zoológico sendo tratado como rei e voltar correndo para o alto das árvores, onde está bem mais seguro. O bicho pode ser preguiça, mas definitivamente não é burro.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 5 de agosto de 2014)

Nenhum comentário: