domingo, 6 de julho de 2014

O direito delas

Amigo leitor, aproxime-se. Venha cá, sente-se aqui, ao lado. Sim, sim, o assunto é sério, foi por isso que o chamei. Quer um café para acompanhar a conversa? Melhor não, café é estimulante, excitante, pode deixá-lo nervoso. Garçom, uma água sem gás, por favor. Isso, perfeito. E aí, como vai indo a vida, a família, tudo bem? E a esposa? Vai boa? Pois então, é sobre ela que quero falar. Não, não, calma, nada disso, não se antecipe aos fatos. Relaxe aí na cadeira e me escute.
Lamento sinceramente, estimado leitor, ter de ser eu a fazer a revelação, mas existem responsabilidades que acabam recaindo sobre as costas de quem se dedica a burilar textos em colunas de jornais conceituados como este, e não há como se furtar de cumpri-las. Vamos, pois, a elas. Espero que assimile da melhor forma possível. Olha só, leitor, reflita comigo: sabe os jogos da Copa do Mundo, pois não? Você certamente percebeu o súbito interesse da sua patroa pelas partidas da Copa, não foi? De repente ela estava ali, com a tabela dos jogos nas mãos, sabendo melhor do que você o horário do jogo entre Portugal e Gana, não foi assim? E você ali, encantado com ela, pensando que finalmente surgira nela aquele interesse pelo nobre esporte bretão, moldando-se enfim a companheira com quem poderia passar a discutir as agruras do Gauchão e os acertos da direção de seu time no período de contratações para a nova temporada do Brasileirão.
Sonho seu, leitor ingênuo, sonho seu, nada disso. Mais uma água, isso, isso. Sabe o que é que despertava a atenção dela, e de todas as outras mulheres, a ficarem de olhos vidrados nas telas dos televisores durante os jogos? O tórax do Cristiano Ronaldo, meu querido leitor torcedor. Sim, senhor, elas olham para isso, especialmente nesses períodos de Copa do Mundo. E tem mais: não é a bola que elas estão acompanhando avidamente com o olhar, mas sim as dezenas de pares de gambitos dos jogadores que correm atrás dela pelo gramado. É por isso que elas não sabem se foi escanteio ou tiro de meta, meu amigo. Elas estavam olhando era para a calipígia avantajada do Hulk.
Você não viu em todos os sites, blogs, jornais e revistas, as votações abertas para eleger os musos da Copa? Quem você acha que propõe esse tipo de pauta? As mulheres jornalistas, meu querido, que se divertem à larga com o desfile de musos atléticos pelas telinhas nesse período. É isso aí... caiu na real, né? Pois é, as mulheres estão cada vez mais vivas e um dos mais importantes direitos que conquistaram foi exatamente esse: o de se divertirem. Calma, calma, vai trincar a borda do copo, larga, não fica mordendo, tá parecendo o Suárez...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 5 de julho de 2014)

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