segunda-feira, 9 de junho de 2014

Clima verde e amarelo

Aos poucos, o cenário verde-amarelo vai se avolumando pelas ruas e calçadas da cidade. Agora sim, faltando três dias para a abertura da competição sediada no nosso país, dá para dizer que o “clima de Copa” começa a surgir. Funcionários de uma loja vestem-se com as cores da bandeira nacional; bandeirinhas verdes e amarelas enfeitam a fachada de empreendimentos comerciais e os quintais de algumas casas; bandeiras do Brasil começam a ser estendidas nas janelas dos apartamentos. Sim, começamos, enfim, a respirar Copa.
Mas por que razão demorou tanto para que isso acontecesse? Será que até nesse quesito a tão propalada mania do brasileiro em deixar tudo para a última hora se manifesta, ou o furo será mais embaixo? Eu acho que é questão de furo mais embaixo, sim, porque o brasileiro até pode ser desligado e desorganizado em muitas coisas, mas jamais em função do futebol, essa sim, a paixão nacional incontestável. O brasileiro chega atrasado a reuniões importantes, aos encontros marcados de qualquer natureza, ao início dos espetáculos culturais, aos jantares, às solenidades, à cerimônia de casamento (dos outros e de seu próprio), a tudo. Menos às partidas de futebol.
Pode ver: em dia de jogo, a movimentação dos torcedores em torno dos estádios tem início muitas horas antes do começo da partida. Ninguém quer chegar atrasado ao jogo. Até porque, é preciso chegar antes para poder xingar o juiz em sua entrada em campo, já que xingar também faz parte da cultura nacional, como bem temos visto por aí ultimamente. Portanto, como vemos, a razão pela demora no desfraldar das bandeiras verde-amarelas e da adoção do “espírito da Copa” por parte dos brasileiros deve ter outro motivo.
E eu acho que sei qual é. Ao menos, tenho lá meu palpite, uma vez que também nessa coisa de palpites nós, brasileiros, somos feras. O meu palpite é de que demoramos para embarcar no espírito da Copa porque, até agora, tínhamos mais o que fazer. Afinal, somos brasileiros, somos trabalhadores, nada cai de graça no nosso colo. Se não somos criminosos e nem corruptos (e a maioria de nós não é, felizmente), precisamos trabalhar duro para ganhar a vida, uma vez que somos achacados o ano todo pelos impostos extorsivos, pela inflação dissimulada, pela precariedade dos serviços públicos essenciais, pelos problemas no transporte e na saúde, pela falta de segurança, por todas essas questões que fazem o dia-a-dia dos brasileiros se parecer com uma corrida de obstáculos.

Mas, agora, faltando pouco para o início do espetáculo, entramos, sim, no clima da Copa e vamos torcer pelo bom desempenho da Seleção Brasileira. Porque somos brasileiros. Nada nos cai de graça no colo, mas podem contar sempre conosco. Vamos lá, queremos o hexa.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 9 de junho de 2014)

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