sexta-feira, 16 de maio de 2014

Páginas virtuais aos pingos

Con-ve-nha-mos, não é a mesma coisa. Tudo bem que é moderno, é o sinal dos tempos, a onda é irreversível, ou você se adapta ou sai da estrada, como bem nos ensinam os extintos dinossauros e quem é que quer ficar para dinossauro? Talvez somente a Tia Maricota, que, uma vez que já ficou para titia, não lhe custa nada ficar também para dinossaura, mas nós é que não, não é mesmo, leitor?
Mas é aquela coisa, a gente vai tentando se adaptar na medida de nossas possibilidades e no limite de nossas capacidades. Essa coisa, por exemplo, de ler a versão impressa dos nossos jornais pelo computador. A ferramenta existe, ainda é novinha em folha e estamos aprendendo a folhear as páginas com o mouse ou com o dedão mesmo e, aos trancos e barrancos, vamos nos amigando da coisa “adespacito”, como diria um xirú que conheço lá pros lados de Cambará. Mas não é a mesma coisa. Até porque, é aquela coisa da coisa, de que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
Fico aqui me perguntando como é que fica para aqueles leitores que possuem o hábito de começar a folhear os jornais pelo fim? Os amantes do esporte e os leitores fiéis dos colunistas da última página? Sim, certo, eu sei que existe o recurso de acessar direto a página que você deseja a partir de um menu, beleza. Mas para isso o xirú lá meu amigo precisa acertar a mira do dedão no íconezinho do menu na tela do tablet,  né, ô pá! E daí é aquela coisa de mete o dedão, erra a mira, toca em link errado e abre página com foto da Grazi Massafera de biquíni saindo das águas plácidas de Copacabana bem na hora em que a Tia Maricota passa ao largo com a cuia de chimarrão e não pensa duas vezes em dedar para a cunhada a safadeza do macanudo.
É dureza. O que sinto falta mesmo quando folheio digitalmente os jornais (porque ando procurando ser um inserido digital) é das marquinhas de café deixadas pelos leitores que me antecederam na leitura, como ocorre nos exemplares de boteco. Especialmente pingos de café pingado que, nessas horas, se transforma em café pingante e vai deixando as marcas de por quais páginas passou o vivente leitor antes de mim, como impressões digitais a lhe dedurar o interesse de leitura. As marcas pingadas de café pelas páginas dos jornais são o melhor sistema de indicador de interesse de leitura jamais criado, superando em acerto qualquer instituto verificador.

Agora, no tablet e no computador, inventa de pingar cafezinho ou derramar a erva do mate em cima, xirú velho, pra tu ver a reação da Tia Maricota...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 14 de maio de 2014)

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