segunda-feira, 12 de maio de 2014

Os 800 anos do Português

Gomes Pais e Ramiro Pais eram dois irmãos portugueses que provavelmente viviam na cidade de Braga no século 12 e que, tudo indica, eram gente bem de vida, detentores de posses, influentes e importantes. Sabe-se pouco sobre eles, uma vez que são gente do passado e a reconstrução de biografias antigas é um desafio espinhoso para historiadores modernos, haja vista a escassez de registros oficiais, hábito que a humanidade passou a adotar muito recentemente.
Sobre os irmãos Pais, sabe-se algumas poucas coisas devido ao fato de, por volta do ano 1135 (data estimada devido a vários argumentos derivados de pesquisas históricas), terem decidido firmar um pacto entre eles, que foi registrado por um escrivão, em texto redigido sobre um pergaminho específico que tinha como suporte, em um dos lados, pele de carneiro. Nesse pacto, um dos irmãos se compromete a não contestar os direitos do outro em relação às suas terras. Este, em troca, também se compromete em ajudar a defender o primeiro no caso de agressões vindas de terceiros. O documento sobreviveu aos séculos e está guardado na Torre do Tombo, em Lisboa.
E o que é que nós temos a ver com isso? Bem, temos muito. Especialmente nós, que lemos e escrevemos utilizando a Língua Portuguesa. Isso porque o dito texto, conhecido como “Pacto entre Ramiro Pais e Gomes Pais” vem sendo considerado, por uma vertente de pesquisadores, como o primeiríssimo texto escrito em Português na história. Se isso for realmente verdade, o documento desbanca a primazia de outro texto, o “Testamento de Dom Afonso II”, que até então era considerado o texto-mãe da escrita portuguesa. O testamento foi assinado pelo rei português Dom Afonso II em 27 de junho de 1214, o que transforma a data como a oficial do nascimento de nossa língua. No mês que vem, portanto, se optarmos pelo testamento do rei ao invés do pacto entre os irmãos Pais, deveremos celebrar os 800 anos de existência oficial da Língua Portuguesa.

A atenção para o fato me foi despertada por minha madrinha na Academia Caxiense de Letras, Maria Helena Binelli Catan, ao me repassar um artigo aludindo ao tema. Faz 47 anos que utilizo a língua e jamais me dei por conta de que ela tem até data de nascimento. De fato, somos privilegiados até nisso, ora pois!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 12 de maio de 2014) 

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