domingo, 11 de maio de 2014

Adeus aos ídolos

Sempre que morre uma pessoa famosa a gente fica meio que consternado como se a perda fosse parecida com a de um amigo ou a de um parente. Isso se dá de forma ainda mais aguda quando o famoso em questão integra a nossa galeria pessoal de personalidades a quem admiramos, pois as atitudes e as obras dessas pessoas marcam nossas próprias existências, viram referências daquilo que somos, de como vemos o mundo, de como pensamos.
A morte de um famoso que nos é referencial fala fundo a alguns aspectos de nossas essências. “Diga-me a quem admiras e dir-te-ei quem és”, poderíamos afirmar sem temor de incorrermos em maiores riscos ao analisarmos os valores de determinada pessoa. Pois este ano de 2014, que ainda nem chegou à metade, tem sido pródigo no ceifar de vidas de famosos importantes. Ao menos, alguns dos que têm desaparecido são referência para muita gente, como o ator José Wilker (protagonista de “Roque Santeiro”, a última novela a que me dei ao trabalho de assistir, ainda nos anos 1980), Gabriel García Márquez (cujo talento literário assentou em mim o vício incorrigível pela leitura quando ainda na adolescência) e Luciano do Valle (cuja voz narrou as conquistas de Nelson Piquet na Fórmula-1 e a derrota da Seleção Brasileira na Copa de 1982).
Agora quem se vai repentinamente é o cantor Jair Rodrigues, fulminado aos 75 anos de idade por um infarto, ele que estava ainda em plena atividade. Tratava-se de uma verdadeira lenda viva da Música Popular Brasileira. O nome dele está perenemente tatuado na minha própria biografia por culpa de um padrinho que teve uma ideia genial quando eu nasci, lá em Ijuí, décadas atrás.
Ao ser informado de minha chegada ao mundo, o tal padrinho entrou em uma loja de discos e comprou um “kit LPs da hora”. Ou seja, presenteou-me ao nascer com uma amostra da trilha sonora que embalava a galera naqueles idos de 1966, resumida em quatro bolachões: “Rubber Soul”, dos Beatles; um compacto contendo a música “Satisfaction”, dos Stones; “O Fino do Violão”, de Paulinho Nogueira e “Dois na Bossa Número 2”, a clássica reunião de Jair Rodrigues e Elis Regina.
Muito fui acalentado por meus pais ao som dessas obras de arte musicais, com as vozes de Elis, Jair, Paul McCartney, John Lennon, Mick Jagger (mais as cordas dedilhadas por Nogueira) se sobrepondo ao meu choro de bebê. Nossos ídolos podem ainda ser os mesmos e a perda de alguns deles dói, é certo, mas serve para reforçar nossos próprios valores.

 (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de maio de 2014)

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