segunda-feira, 5 de maio de 2014

A grandeza do pequeno

Sempre há muito que aprender com quem possui mais cultura, mais história, mais trajetória e mais conhecimento do que a gente. Sempre. Esse é um dos segredos da sabedoria e um dos fatores a serem observados por quem pretende obter desenvolvimento e crescimento. Isso serve tanto para indivíduos quanto para agrupamentos de indivíduos. Serve até mesmo para nações inteiras.
Uma nação subdesenvolvida ética e culturalmente pode ter muito a aprender com nações que já atingiram patamares mais elevados nos quesitos que norteiam a convivência social. Nós, aqui do nosso Brasil do futebol, da alegria e da violência, podemos aprender bastante com povos de além-mar que estão alguns anos-luz à frente em questões importantes, como os direitos fundamentais do cidadão, por exemplo. Nesse quesito, o nosso país continental tem muito a aprender com o pequenino Principado de Mônaco, o segundo menor Estado do mundo (só fica atrás do Vaticano), com 202 hectares de área e uma população de cerca de 35 mil habitantes.
Isso ficou patente com a notícia de que a Família Real de Mônaco emitiu um comunicado oficial ao mundo, em que repudia a abordagem a respeito da vida da princesa Grace Kelly (1929-1982), feita pelo filme dirigido por Olivier Daha, com estreia mundial em 14 de maio no Festival de Cannes. “Grace: A Princesa de Mônaco”, traz Nicole Kidman no papel-título da obra que retrata a vida da famosa atriz de Hollywood que abandonou os holofotes para se casar com o Príncipe Rainier III, de Mônaco, até morrer em um controverso acidente automobilístico.
Mas a Família Real não gostou da abordagem efetivada pela obra cinematográfica e lançou nota oficial reiterando que o diretor não levou em consideração as observações feitas pelo Palácio do Principado. “Esse filme não pode ser classificado como uma biografia. Trata-se de obra puramente ficcional, baseada em referências históricas erradas e dúbias. A família da princesa não deseja ser associada a esse filme”, resume o comunicado.

Mas em nenhum momento a Família Real cogita a possibilidade de censurar o filme. Discordam, repudiam e manifestam seu ponto de vista. E ponto. Censura? Nem lhes passa pela cabeça. Já, do lado de cá do Atlântico, sempre que se trata de biografias, o gatilho da censura é acionado com destreza, altivez e desenvoltura, escancarando os nossos pés firmemente fincados nos atrasados conceitos totalitários de sociedade. Nossa caminhada para atingirmos o porte de um Principado de Mônaco ainda é longa, ó patrícios.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 5 de maio de 2014)

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