terça-feira, 4 de março de 2014

A sporta básica

Confesso que não entendo nada de economia. No máximo, sei economizar, ou seja, essa coisa que se aprende desde criança ao guardar moedinhas no porquinho de plástico durante um tempo para depois carneá-lo com o canivete surripiado do pai a fim de torrar as economias de meses em uma rodada voraz de picolés sob a sombra de um jacarandá, com os coleguinhas e primos, em uma tarde de férias de verão. Mas de economia mesmo, essa de gente grande, abordada em páginas como o “Caixa-Forte”, do jornal Pioneiro, não entendo patavinas.
Números, para mim, servem para monitorar a situação da caderneta de poupança (amadurecimento natural dos cofrinhos carneáveis), quando não a ataco para pagar contas (a evolução natural dos inocentes picolés da infância); para detectar o aumento dos preços nas gôndolas do supermercado; e para marcar o número da página do livro que estou lendo. Fora isso, preciso da ajuda dos universitários. No caso, da titular do “Caixa-Forte”, mesmo, que me presta assessoria personalizada em questões numérico-econômico-financeiras (privilégio que detenho há anos e nem morto revelo as artimanhas que utilizei para obtê-lo).
Mas como não entendo de economia, é com prazer que às vezes me entrego ao encanto de saborear as surpresas que me causam alguns informes econômicos sem que eu os compreenda. A tal da cesta básica, por exemplo. Eu, na minha ingenuidade desinformada, sempre acreditei que os produtos que a compunham seriam aqueles inventariados como de primeiríssima necessidade (feijão, arroz, carne, leite, café, farinha de trigo, açúcar, óleo, manteiga...), desconsiderados os supérfluos. Qual a minha surpresa ao descobrir, na lista da cesta básica de Caxias do Sul, artigos como cerveja, cigarros, maionese, pêssegos em lata, refrigerante, leite condensado, mamão e capeletti (se tem capeletti, então não é cesta, mas sporta básica).

Claro, cada região, cada povo, cada cultura, possui uma visão específica do que seriam artigos de primeira necessidade. Meu vizinho pode valorizar mais uma lata de leite condensado (ou uma garrafa de cerveja, ou um maço de cigarros) do que um quilo de arroz. Todos merecem poder comprar leite condensado, mas isso não transforma o leite condensado em necessidade básica. Entusiasmado com a relatividade desse conceito, botei-me a listar a minha “sporta” básica personalizada. Lúcida, a titular do “Caixa-Forte” aconselhou-me a não publicá-la. Melhor dar ouvidos a quem entende...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 4 de março de 2014)

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