quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

O queijo rolante

Minha família é fissurada por queijos. Toda ela. E por todos os tipos de queijos. Essa tara compartilhada por todos os membros de minha família, repassada por contágio aos agregados e eternizada via carga genética de geração em geração, às vezes provoca algumas situações estranhas que talvez devessem nos fazer repensar essa nossa atitude coletiva, porém, não é o que acontece. Nossas papilas gustativas parecem falar mais alto do que nosso senso de conveniência, e assim vamos levando. Às vezes, na cabeça, como se poderá verificar logo mais adiante.
Quando falo aqui em “minha família”, estou me referindo a todos os indivíduos que podem ser incluídos dentro da mais ampla e generosa definição do termo. Além de mim, então, são (os vivos) e eram (os já mortos) maluquinhos por queijo minha mãe, meu pai, minha irmã, meus avós, bisavós, trisavós e tataravós, meus tios (de sangue ou emprestados), meus primos, segundos-primos, minha esposa, meus cunhados e cunhadas (meu sobrinho ainda está em fase de iniciação) e meus sogros.
Os queijos de que gostamos são simplesmente todos. Mas temos preferência especial por queijo prato, queijo lanche, roquefort, camembert, brie, gorgonzola, gran padano, parma, fondue, muzzarela, provolone, cottage, mascarpone, ricota, parmesão, pecorino, gruyére, estepe, emmenthal, gouda, feta, cheddar, catupiry e também aquele feito por minha sogra, ela mesma.
Dia desses, uma tia minha estava de visita à casa de minha mãe e, na hora do café da manhã, perceberam que faltava queijo para o desjejum. Horror! A quase-tragédia foi evitada pela ação rápida e determinada de minha tia e minha irmã, que voaram até a padaria mais próxima e adquiriram uma linda forma inteira redonda de queijo nem sei qual. No afã de retornarem correndo para casa e saborear a iguaria, deixaram escapulir o queijo das mãos em uma esquina, pelo que ele, devido a seu formato redondo, botou-se a rolar loucamente calçada abaixo, sendo perseguido implacavelmente pelas pernas, braços e gritos de minha irmã e tia, que conseguiram capturá-lo com vida e intacto, ao encalacrar-se numa boca-de-lobo. O queijo rolado foi devorado logo depois, uma vez que não se sujou por permanecer rolando dentro do saquinho.

Agora, só querem comer queijo rolado, porque dizem que ficou uma delícia. Eu, que sou da família, acredito e dou fé. Vocês, felizardos leitores, não tentem isso em casa.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 13 de fevereiro de 2014)

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