quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Um joelho e duas luvas

“Pois, então, me traga dois niples de cobre de meia polegada, duas luvas de quarenta para esgoto e dois joelhos meia polegada, de cobre e com rosca interna”. Eram essas as derradeiras peças que ainda faltava providenciar para que o encanador pudesse finalmente concluir o processo de instalação das novas torneiras adquiridas para a casa. Com a chave do carro em punho, pronto para decolar rumo à loja de materiais de construção a duas quadras dali, flagrei-me desprovido de caneta e papel para anotar as encomendas. Belo jornalista esse, sem caneta, sem papel, nem mesmo um gravadorzinho para portar o pedido em viva-voz.
Mas havia meu cérebro, que sempre me acompanha para onde quer que eu vá, municiado internamente com um aplicativo de memória repleto de neurônios que já estava acionado e ser-me ia muito útil. “Já volto”, anunciei, enquanto o profissional se botava a rosquear uma das torneiras. Cinco minutos depois, eu adentrava as portas da loja despejando aos ouvidos do atendente rapidamente a lista de minhas necessidades, antes que me esquecesse: “Preciso de duas luvas de cobre de meia polegada, dois niples para esgoto e quatro joelhos de quarenta qualquer coisa”, disparei, convicto.
O atendente me olhou meio espantado, afirmou que não existiam niples para esgoto, mas mesmo assim eu que o acompanhasse até o final da loja, onde se localizavam essas peças, para vermos juntos o que eu precisava. Aquilo me desconcertou um pouco, mas no fim, com a boa vontade do rapaz, saí da loja faceiro, portando uma sacolinha recheada com um joelho de meia polegada com rosca externa, oito niples de plástico de meia polegada, seis luvas de vinte para esgoto, um serrote que não sei como se enfiou no meio da história e uma bela chave de fenda com cabo azul.

“Não era nada disso que eu te falei”, sentenciou, sem dó, o objetivo e prático encanador, mexendo com os dedões dentro da sacolinha plástica e misturando joelhos com niples e luvas, mas detectei nele um olhar de cobiça desferido à minha chave de fenda com cabo azul, que logo tratei de levar a um lugar seguro no quarto das visitas, por onde ele não tinha nada que circular. Enfadado, o encanador achou melhor voltar junto comigo à loja, a fim de fazer pessoalmente o pedido correto. Agora estou eu aqui, com esses niples e joelhos errados, sem saber que destino dar-lhes. Mas antes urge providenciar um bloquinho e uma caneta.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 4 de setembro de 2013)

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