sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O vampiro da festa

Certa vez, na minha adolescência, uma coleguinha de aula resolveu celebrar o aniversário de 15 anos promovendo em sua casa uma festa a fantasia. Esse tipo de acontecimento não era comum em Ijuí nos anos 1980 e a iniciativa dela causou alvoroço na cidade, a gurizada disputando convites e traficando influências para se aproximar rapidamente de seu círculo de amizades a ponto de conseguir ser admitido no evento. Posso estar inventando, afinal, sempre vale a máxima de que “se non é vero, é ben trovado”, mas, pelo que me lembre, saiu até notinha publicada no jornal da cidade.
Eu e minha irmã éramos amigos dela há muitos anos e figurávamos desde o início na lista de convidados, portanto, passamos ao largo desse estresse. De minha parte, dediquei-me à crucial tarefa de decidir qual seria o motivo de minha fantasia para a tal da festa. Pouco tempo antes eu já havia causado sensação no colégio durante uma atividade recreativa na qual fui fantasiado de Visconde de Sabugosa (eu era alto e magro que nem um palito, portanto, minha caracterização funcionou perfeitamente) e agora desejava repetir o feito, como forma de afirmação.
Decidi ir fantasiado de Conde Drácula. Vesti uma blusa colante preta de minha mãe, calças pretas, tênis Bamba pretos; transformei uma minissaia vermelha de minha irmã em capa; recortei em cartolina umas garras compridas azuis que fixei sobre minhas unhas com Durex; ataquei o estojo de maquiagem da mãe para produzir olheiras profundas com rímel e criar sobrancelhas hediondas; meti uma chapa de plástico de brinquedo com caninos pontiagudos e lá estava eu, o Conde Drakirstácula em pessoa!

Problema é que, na festa, decidi encarnar o personagem e agi o tempo todo de acordo com o que eu imaginava que seria o comportamento de um vampiro: fui sorrateiro, me esgueirei pelos cantos da casa, não comi nem bebi nada (só observava o pescoço alvo da Carin), não falei com ninguém, fiz cara de mau e ar blasé. Quando as meninas cruzavam perto, eu gesticulava a garra com unhas de cartolina e fazia “graur”. Resultado: até hoje não sei o sabor das guloseimas servidas e Carin passou a me olhar de maneira esquisita. Não vejo a hora de descontar isso tudo numa próxima festa a fantasia, em que irei transmudado em Dona Redonda, para tirar o atrasado e me atracar nos croquetes. Desde aquela vez, aprendi a levar as coisas um pouco menos a sério...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 6 de setembro de 2013)

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