segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Na boca do tubarão

O norte-americano Erik Norrie é um cidadão, no mínimo, singular. É difícil encontrar um adjetivo que melhor classifique aquilo que ele é. Poder-se-ia dizer que Erik Norrie possui superpoderes como o Hulk e tem o corpo fechado, pois nada o atinge. Ou isso, ou é odiado pela natureza, uma vez que, ao longo de seus 40 anos de idade, vem colecionando uma série de episódios bizarros nos quais foi vítima de acidentes terríveis que teriam despachado qualquer outro direto para o além. A morte ronda Erik Norrie, desfere golpes certeiros contra ele, mas não consegue enredá-lo. Por que será?
Vejamos. Sua mais recente peripécia mortal foi ter escapado vivo de um ataque de tubarão nas Bahamas, onde estava pescando com um arpão. Norrie conseguiu nadar para longe do faminto peixe que aperitivava sua perna, pediu socorro em terra e virou notícia, quando então relatou que não era a primeira vez que escapava da morte.
A primeira mesmo foi aos dez anos de idade, quando andava à toa na vida na Flórida, em meio a uma tempestade, e foi atingido por um raio que o lançou longe. Sobreviveu, como já sabemos, para, três anos mais tarde, ser picado por uma cobra, o que quase acarretou a perda de sua perna direita. Depois disso, já adulto, foi atacado duas vezes por macacos. Uma delas em Honduras, quando sua esposa, “por brincadeira”, conforme relata (aí tem), trancou-o na jaula de uma fêmea, que avançou contra ele. Por fim, passava férias na Amazônia, no Brasil, quando um macaco tupiniquim deu-lhe um soco na cabeça.

Foi só aí que passei a desconfiar do Erik Norrie. Ora, existe algo mais repleto de clichê preconceituoso e desinformado do que um norte-americano imaginar que ao vir para o Brasil correrá risco de vida porque será inevitavelmente atacado por macacos? Vai mentir para outro, Erik Norrie. Nós, brasileiros, somos muito mais competentes em colocar vidas em risco do que atiçando macacos contra turistas. Venha se internar em nossos serviços públicos de saúde, Erik Norrie. Venha dirigir em nossas estradas. Venha se colocar na mira dos assaltos com morte promovidos pela cadeia do tráfico e do vício. Venha beber leite adulterado com produtos cancerígenos. Quero ver o senhor enfrentar o cotidiano de um brasileiro por um ano inteirinho e aí, sim, sair ileso. Para nós, boca de tubarão e raio na cabeça são fichinhas...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 19 de agosto de 2013)

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