sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Elvis, quem?

Quem seria o cidadão de costeletas?

À medida que a ciência e a medicina avançam, suas conquistas vão proporcionando uma melhor qualidade de vida para a humanidade. Isso é ponto pacífico, inquestionável. A oftalmologia consegue hoje libertar o míope do uso de óculos; a dor de cabeça pode ser eliminada com uma drágea de ácido acetilsalicílico; a anestesia é um bálsamo nas cirurgias; o diagnóstico para detectar e prevenir doenças avança em todos os campos; até a gripe passa a ser combatida com vacinas. Uma era de maravilhas, já exclamaria a Miranda filha de Próspero se saísse de sua ilha, mas isso já é outra história.
Mas no meio do turbilhão de notícias sobre novidades e avanços nas pesquisas médicas que nos chegam, algumas beiram o estapafúrdio, geram desconfiança e fazem pensar. Exemplo disso é a que chega de um instituto de pesquisas sobre doenças cerebrais sediado em Chicago, Estados Unidos. Conforme os pesquisadores, é possível identificar sinais de início de uma espécie rara de demência aplicando aos pacientes um teste no qual pede-se para que identifiquem os rostos de celebridades mundiais. Não conseguir perceber que a foto à sua frente é de Elvis Presley, Albert Einstein ou John Lennon serviria de alerta e de indício de que a doença pode estar a se manifestar no sujeito.
Mas peraíumpouquinho, já me rebelaria eu, lá no instituto. E se o vivente simplesmente nunca tiver ouvido falar em Elvis Presley, aí, como é que fica a validade do tal do teste? Sim, porque é notório o fato de, poucos anos atrás, Bob Dylan ter saído a pé de noite do hotel em que estava hospedado, em uma cidade norte-americana, para dar uma volta sozinho, quando foi abordado com desconfiança por um jovem policial de 22 anos que nem fazia ideia de quem era aquela criatura com jeito de mendigo perambulando por ali àquela hora. Não sabia quem era Bob Dylan. Outro dia, assisti em um dos nossos canais de tevê locais um jovenzinho sendo entrevistado em estúdio e de repente, nem sei por que, o apresentador citou o famoso e saudoso palhaço “Carequinha” e o moçoilo riu do alto da soberba de sua alienação cultural: “Carequinha? Tão famoso que nunca ouvi falar...”. Ou seja, media o mundo com a régua de sua própria burrice.

Louvável o esforço em tentar criar formas de detectar a demência, doença terrível. Difícil será encontrar formas além do investimento em educação e cultura para combater a falta de interesse e a alienação de alguns.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 23 de agosto de 2013)

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