sexta-feira, 26 de julho de 2013

Brucutus globalizados

O cenário é um supermercado de uma grande rede nacional. Forro o carrinho com as compras, pago no caixa e me dirijo à porta do elevador que dá acesso ao estacionamento. O elevador chega, entro conduzindo o carrinho e aperto o botão da garagem. As portas vão se fechando quando avisto uma senhora se aproximando, também com seu carrinho repleto de mantimentos.
Rapidamente pressiono o botãozinho que mantém as portas abertas e espero a senhora chegar. Sem dizer nada (aqui caberia um “muito obrigada”, por exemplo), ela entra apressada, chocando seu carrinho contra o meu (instante em que cairia bem um “desculpe”) e ocupando seu espaço na caixa semovente, completamente muda. Ao chegarmos na garagem, a porta se abre automaticamente e eu volto a apertar o botão que a mantém aberta, cedendo minha passagem à mulher. Ao manobrar seu carrinho para fora, de novo bate no meu e se manda, muda como entrou, sem olhar para trás. Meus ouvidos não registram nem “desculpe”, nem “por favor”, nem “obrigada”, nem “bom dia”, nenhuma dessas coisinhas que indicam a diferença oceânica que existe entre um brucutu medieval e um(a) cidadão(dã) civilizado(a).
Na garagem, a senhora mal-educada ruma para sua caminhonetona, a fim de guardar as compras no porta-malas e partir célere para sua residência, onde certamente uma família a espera para o almoço. Noto, portanto, que não lhe faltam recursos financeiros para a aquisição de um carrão e para as compras de estufar carrinho no mercado. Faltam-lhe, sim, recursos humanos para exercitar a boa educação (aliás, me pergunto que educação ela proporciona a seus filhos em casa...), a civilidade, a cidadania, a convivência humana básica. Recursos esses que passam bem longe da questão financeira, ressalte-se bem.
O papa Francisco está de visita ao nosso país desde segunda-feira, para encontrar-se com jovens do mundo inteiro. Um dos mantras de seu papado é justamente a preocupação que ele demonstra com o que classifica como “a globalização da indiferença”. Concordo com ele, mas acrescentaria que eu, aqui em Caxias do Sul, ando também muito preocupado com a globalização da grossura. E se a grossura grassa entre os da minha geração, só nos resta mesmo é depositar fé em alguma mudança a partir da juventude. Caso contrário, o papo será caro...
 (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 26 de julho de 2013)

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