domingo, 23 de junho de 2013

Apressado come cru

Chega a ser engraçado. Não sei se é só comigo, mas a sinaleira sempre fecha na minha vez de passar. A impressão que dá é de que os veículos à minha frente trafegam com morosidade deliberada só para cruzarem no último segundinho do verde e deixarem a mim ali, estaqueado. Especialmente quando estou com pressa ou atrasado. Nesses casos, soma-se também o fato de o fluxo de veículos estar mais intenso do que o normal, os engarrafamentos mais frequentes e lentos, a tranqueira toda jogando contra.
Também percebi um fenômeno semelhante em relação às filas. Nas praças de pedágio, a fila que escolho é sempre a mais lerda. Não importa o tamanho, invariavelmente aquela que escolho é a que mais demora para solucionar-se. Minha tendência é a de optar pela mais curta, e nem sempre (quase nunca, no meu caso) ela representa a mais ágil. O mesmo se aplica às filas de banco. Agora o padrão são as filas únicas, certo, é um procedimento mais lógico, mas a sensação que tenho é de que a fila trava a partir do momento em que me posiciono na rabeira dela, e os caixas demoram mais do que o usual para despachar os clientes e fazer a coisa andar. E isso tudo se dá sempre que estou morrendo de pressa.
O mesmo com o telefone celular. Ele fica ali no meu bolso o dia inteiro, me fazendo uma até simpática companhia muda. Só começa a tocar insistentemente justamente naqueles quinze minutos em que estou dirigindo e não posso atendê-lo, ou quando dei aquela fugidinha rápida ao banheiro ou quando estou em outra ligação no telefone convencional ou quando estou em reunião ou...
Mas o inverso também se dá, com frequência assustadora. Quando preciso falar com urgência com alguém, seu telefone está ocupado, ou fora de área, ou desligado, ou cai na caixa de mensagem. A internet demora demais para abrir o site de que necessito com urgência. O estacionamento dos locais em que preciso chegar está lotado. O frentista demora para perceber que estou ali precisando que abasteça meu carro.
O que há de errado comigo?
Nada, exceto a ansiedade gerada pela pressa e pelo estresse. Nada disso deixará de me acontecer, mas seguramente tudo isso deixará de me incomodar se eu exorcizar de dentro de mim a pressa. Um mundo melhor é mais fácil de ser alcançado quando começamos a construí-lo dentro de nós. Tô nessa.
 (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 21 de junho de 2013)

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